Olá! Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.

Boa noite, Quinta Feira 28 de Março de 2024

Menu

Artigo

O fundo do Fundo

09 de Abril de 2020 as 12h 13min

Na sessão da Câmara de Sinop da última segunda-feira (6), o vereador Hedvaldo Costa (PRB), apresentou um requerimento, em que pediu informações referentes às multas aplicadas pelo município de Sinop entre 2017 e 2020. A matéria proposta pelo vereador se limitava a: 1- Quanto o município arrecadou com multas?; 2- Em que esse dinheiro foi gasto?

O requerimento sequer especificava “multas de trânsito”, mas como os radares se tornaram uma pauta popular na Câmara, o assunto descambou para esse tema. Hedvaldo disse que esteve na secretaria de Trânsito e que viu o volume de dinheiro no Fundo Municipal de Trânsito. Depois acabou propondo que a prefeitura utilizasse esse dinheiro para o combate do Coronavírus.

A conversa tomou corpo. O presidente da Câmara, Remídio Kuntz (PRB), sugeriu um ofício, da casa de leis, pedindo para que o vencimento das multas fosse suspenso por dois meses. Ato contínuo, Hedvaldo defendeu o desligamento de todos os radares. Discursos no mesmo sentido foram feitos por outros vereadores.

Todos esses adendos, na discussão do requerimento, não passaram de “conversa”: sugestões, sem qualquer formalidade ou endereço. Nada daquilo dito tinha força de lei e, como o plenário estava vazio – em função das medidas de prevenção à pandemia – o mais provável é que os discursos tinham como objetivo estartar um debate (na mais nobre das intenções); ou produzir vídeos com falas de efeito para postar nas redes sociais.

Eis que, no uso desse expediente nada formal, mas cada vez mais comum na Câmara, Dilmair Callegaro pede um aparte. Antes, logo no começo da sessão, ele havia se colocado como pré-candidato a prefeito de Sinop pelo PSDB. Mais tarde, na discussão do requerimento sobre as multas, Dilmair usou o palquinho: “Se for eleito prefeito, não vai ter radar a partir do dia 1º de janeiro de 2021”.

Nós da imprensa e a população, acompanhávamos a sessão pelo Youtube, transmitida em tempo real. Só era possível ver o que a câmera da Câmara escolhia mostrar, além de ouvir o que era dito nos microfones. Mas no fundo da discussão do “fundo”, uma voz foi ouvida.

Hedvaldo não ficou nada feliz com a fala de Dilmair e vociferou – de leve – contra o colega: “Ah não! Esse discurso não. Só faltou pedir voto”.

Nesse momento, quem usava o microfone era Adenilson Rocha, mas a fala de Hedvaldo acabou “vazando”. Talvez o microfone do vereador tenha ficado ligado sobre a mesa, ou o brado tenha sido mais retumbante que se imagina.

Para o expectador comum, que assistia a sessão, como eu, em casa, parecia que todos vereadores estavam pedindo voto ao falar contra os radares durante a discussão de um requerimento sobre as multas. Quando alguém – Dilmair – o fez de forma menos óbvia, Hedvaldo se desagradou.

O assunto continuava rendendo, quando Dilmair voltou a fazer uso da palavra. Então, parecendo “menos candidato”, pediu para anexar ao requerimento uma deliberação do CONTRAN, publicada em março, que interrompe os prazos dos processos relacionados a multas (defesa de autuação, recurso, identificação do condutor, etc.), pelo período de 18 meses.

Na sequência Hedvaldo pediu a palavra. E, quando se esperava que a “patada” que havia vazado no áudio fosse remasterizada com o microfone de fato aberto, o discurso mudou de tom. “Esse é o debate, assim o senhor contribui demais”, parabenizou um Hedvaldo bem mais “polido”.

Depois de mais de meia hora de “iluminados” debates sobre as multas de trânsito, o requerimento foi votado e, hoje, quinta-feira (9), no Boletim de Votação, o texto do requerimento foi publicado sem nenhuma menção à radares.

Jamerson Miléski

O Observador