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Artigo

O PSDB não entendeu o recado das urnas

17 de Maio de 2016 as 16h 17min
Fonte: Jamerson Miléski

O Brasil protesta contra o governo da presidente Dilma Roussef. Cansado de ver os noticiários estampando as cifras milionárias desviadas, roubadas ou mal gastas pelos gestores públicos, o povo vai à rua pedindo o fim da corrupção, enraizada em nosso sistema político. A grande parte da nação simpatiza com a iniciativa e descredencia a presidenta. Apenas 9% dos brasileiros aprovam o governo Dilma, disse o Ibope em julho de 2015.

O Brasil está descontente com o atual governo. Mas isso não significa que o Brasil quer o PSDB. O partido e seus simpatizantes tentam, e é a sua função, transformar a reprovação da presidente Dilma em aprovação à sua sigla/ideologia. O grito de “Chega de Corrupção” vira “Fora Dilma! E leve o PT com você”. No último ato de protesto o candidato derrotado a presidência, Aécio Neves, teve a pecha de sair em meio a multidão para ser enaltecido. Só consigo entender aquela imagem de duas formas: carência ou propaganda eleitoral extemporânea.

O PSDB não entendeu, não quis entender ou fez de conta que não entendeu o recado das urnas. Não foi o PT que venceu o pleito. Foi o PSDB que perdeu. A era PT não é um “sim” para Dilma e Lula. Os 16 anos de governo do partido da estrela vermelha são um redondo “Não” para os tucanos. Ou pelo menos para o modelo de política que eles apregoam.

Analisemos o comportamento do eleitor desde o começo dessa dissidência que polarizou a política brasileira. Em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente da República, ele venceu no primeiro turno com 34 milhões de votos, o que correspondeu 54% dos votos válidos. O Brasil queria o PSDB depois de 4 anos de Sarney, um presidente cassado por um fiat e um sucessor que trouxe o fusca de volta. Vitória “limpa” (apesar do marketing questionável), no primeiro turno.

Em 1998, quando FHC estuprou a Constituição para permitir a sua própria reeleição, o PSDB fez quase 36 milhões de votos (53% dos votos válidos). Praticamente a mesma conta da eleição passada. Vitória no primeiro turno. O Brasil ainda queria o PSDB, apesar de 20% dos eleitores não comparecerem às urnas.

FHC completou os 8 anos que queria. PSDB e o extinto PFL, hoje DEM, repetiram a fórmula do início dos anos 90: tentaram “bombar” um Ministro que depois seria candidato a presidente. Se em 1994 foi FHC com o Plano Real, em 2002 foi José Serra com seus remédios genéricos. O mesmo princípio ativo não deu o mesmo resultado. Lula abaixou o timbre de voz de sindicalista e venceu o tucanato com a máquina do Governo na mão... e sem Bolsa Esmola.

A eleição foi para o segundo turno. Lula fez 52,7 milhões de votos (61% dos válidos). E o candidato do PSDB? 33,3 milhões. Ou seja, 700 mil votos a menos que FHC, eleito em 1994.

O PSDB continuou basicamente com a mesma parcela de votos que tinha em 1994. O fenômeno se repetiu em 2006, mesmo com o tucanato lançando o “picolé de chuchu”, Geraldo Alckmin, afim de não queimar mais uma vez o seu figurão, José Serra. Alckmin bateu a votação de Serra. Fez 37,5 milhões de votos. Superou inclusive o reeleito Fernando Henrique Cardoso no pleito de 1998. Mas Lula venceu, no segundo turno, com 58 milhões de votos.

Passados 8 anos interruptos de governo PT, o cenário estava propenso a mudança. O partido era filho único de mãe solteira. Muito forte em sua militância, é verdade, mas com um único expoente, o próprio Lula. Para vencer e voltar ao poder, o PSDB colocou seu melhor quadro, preservado no pleito passado, governador de São Paulo, José Serra. E o PT? Bom, o partido lançou nessa disputa uma mulher, fora dos padrões convencionais de beleza, ruim de discurso e que estava escondida em uma função burocrática lá na casa civil. Se a pintura já era feia o suficiente, adicione o histórico de ex-guerrilheira e uma ficha policial grossa de tantos carimbos do DOPS. Foi esse o candidato que o PT colocou para o povo escolher.

E ainda assim, o povo escolheu dizer que não queria o PSDB outra vez. O brasileiro preferiu votar em uma mulher com um discurso típico de quem tem dislexia, do que no mais preparado e popular membro do PSDB. Dilma teve 55,7 milhões de votos (56% dos válidos), vencendo no segundo turno. Serra, 43,7 milhões de votos.

Mensalões, mensalinhos, uma onda de escândalos, protestos, povo indo às ruas e uma Copa do Mundo comprada como um circo para confundir eleitores e entregue como um tiro no pé. Tudo estava em desfavor da presidente Dilma na sua reeleição em 2014. Para piorar ainda teve a comoção em torno da morte de Eduardo Campos, catapultando Marina Silva e fracionando a eleição em 3. O eleitor fiel do PSDB ou fiel ao discurso clássico tucano, fechou com Aécio Neves. Marina ficou fora do segundo turno, mas também se aninhou com o PSDB. Era agora. A velha disléxica do partido comunista contra o “líder” de boa índole e discurso, do partido que inventou o Real. PSDB está bem na fita. Mas não, ainda não quero – disse o povo brasileiro. Droga, vou ter que votar na Dilma denovo.

A candidata do PT fez 54,5 milhões de votos, um pouco a menos que na sua campanha anterior. O candidato do PSDB, que nesse momento era o candidato de todos os eleitores “anti-PT”, fez 51 milhões de votos. Foi bem perto. Foi por pouco. Mas a maioria dos brasileiros preferiu repetir o não que já vinha dando ao PSDB desde 2002.

Fora Dilma. Fora PT. Quero ver esse bando de corruptos presos. Mas isso não significa que eu quero o PSDB. Essa é a lição das urnas. Você pode entender ou se agarrar ao único argumento de um apaixonado tucano: as urnas foram adulteradas!

E eu respondo: sim! Desde 1994.

Jamerson Miléski

O Observador