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Fotos

28 quilômetros de morte

Primeira abertura das comportas da Usina de Sinop desencadeou um irreparável dano ambiental

Geral | 08 de Fevereiro de 2019 as 12h 00min
Fonte: Jamerson Mileski

Na terça-feira (6), começaram a circular nas redes sociais, fotos e vídeos de inúmeros peixes mortos. As publicações diziam que o desastre ambiental havia ocorrido no Rio Teles Pires. Verdade ou Fakenews?
Ainda na quarta-feira (7), o GC Notícias confirmou a informação de que uma grande quantidade de peixes havia morrido no trecho logo abaixo da barragem da usina hidrelétrica de Sinop. Restava a dúvida se todo o estrago mostrado nas imagens compartilhadas era real.
A equipe do GC Notícias foi até o local na tarde de ontem, quinta-feira (7). Nossa reportagem partiu do Pesqueiro Santo Expedito, no município de Itaúba, onde existe um pequeno porto administrado pela família do piscicultor e pescador, Celso Stadnik. 
De barco percorremos 28 km rio acima, até chegar na barragem da UHE Sinop. Já nos primeiros metros, o cenário desolador pré-anunciado ia se confirmando. Uma quantidade pequena de peixes mortos estava enroscada na vegetação que permeia o lago da usina de Colíder – abaixo da barragem da UHE Sinop já é considerado reservatório da UHE de Colíder. 
Logo no primeiro quilômetro da nossa incursão avistamos barcos da empresa Biota, que presta serviços para UHE Sinop. Eram 3 barcos, com 3 pessoas cada, fazendo a coleta de alguns peixes mortos que boiavam no rio. Uma quarta equipe, mais acima, coletava amostras de água para monitoramento. 
O piloto voluntário do barco que levou nossa equipe foi Douglas Aziliero. Além de ser um pescador que frequenta com assiduidade aquele trecho do rio, Douglas também é vereador do município de Itaúba e foi o autor de um dos primeiros vídeos sobre o dano ambiental a viralizar na rede. “A situação estava muito pior na terça-feira. A água estava mais barrenta e a quantidade de peixes mortos eram muito maior”, comentou Douglas.
A medida que nosso barco avançava rio acima, o volume de peixes mortos aumentava. Cachorras com mais de 50cm de comprimento, bicudas da grossura de um braço e pacus que pareciam ser os reprodutores alfas do rio. Todos mortos. Alguns em avançado estado de decomposição e outros ainda frescos, com os olhos totalmente translúcidos. 
Nem mesmo as espécies tidas como mais resistentes se salvaram. Peixes de couro, como Chinelos e Mandis boiavam pelo rio. Nem mesmo os Cascudos resistiram. Celso, que trabalha com piscicultura e observou o rio ao longo desses dias, disse que a quantidade de peixes mortos seria suficiente para cobrir 200 campos de futebol. “As comportas não deveriam ter sido totalmente abertas. Deveriam ter aberto aos poucos. Essa erosão acumulada na barragem, sendo solta de uma vez, foi o que matou os peixes”, palpita Celso. 
Em alguns trechos do rio, bandos de aves se aglomeravam aproveitando a fartura de peixe nada fresco, especialmente as garças. Em determinado trecho do percurso, uma leve chuva começou a cair, mas nem ela foi capaz de disfarçar o cheiro fétido. O Rio Teles Pires estava fedendo a peixe morto.    
Nos 28 km percorridos pela reportagem encontramos apenas um tronco robusto, com mais de 2 metros, boiando no rio. Havia poucos restos de vegetação e a água já não estava barrenta. Em um comunicado expedido pela Assessoria de Comunicação na manhã desta sexta-feira (8), a UHE Sinop declarou que os parâmetros de qualidade da água estão “normais”.
As comportas dos vertedouros foram abertas, pela primeira vez, na segunda-feira (4), como parte do procedimento de enchimento do lago da UHE Sinop, autorizado pela Sema no dia 30 de janeiro. 
Aproximadamente 24 horas após esse procedimento, os peixes começaram a morrer. 
O GC Notícias entrou em contato com a concessionária responsável pela UHE Sinop. Segundo a CES (Companhia Energética Sinop), o órgão ambiental, SEMA, já foi informado do sinistro. “Os peixes foram retirados do rio, estão sendo quantificados, assim como serão periciados para que seja identificada a causa da morte”, informou a UHE Sinop em nota.
Assim que o fato foi registrado, algumas providências foram tomadas pela CES. A companhia ampliou o número de barcos e funcionários especializados para monitoramento detalhado e resgate dos peixes abaixo da barragem. Também estão sendo feitas medições diárias de todos parâmetros da qualidade de água a partir do barramento. A intenção é descobrir a causa da morte dos peixes. “A Sinop Energia investigará profundamente o ocorrido e tomará as medidas legais e socioambientais adequadas para resolução do ocorrido”, garantiu a companhia.
O GC Notícias também procurou a SEMA, mas o órgão ambiental ainda não se manifestou.
Confira abaixo as imagens produzidas pela nossa reportagem na tarde desta quinta-feira (7):