As estranhas podas feitas pela Rede Cemat

Árvores aparadas pela concessionária de energia na cidade de Sinop criam paisagens inusitadas

Árvores com o formato de um “V”, copas assimétricas ou quase inexistentes. Paisagens estranhas da arborização urbana de Sinop que não foram criadas por alguma peculiaridade da natureza. É obra da mão do homem. Ou melhor, da Energisa/Cemat.

As podas realizadas pela concessionária de energia elétrica do Estado de Mato Grosso despertam o descontento dos moradores. As críticas, normalmente feitas a forma com que os cortes são feitos, somaram-se a falta de zelo da empresa. É que nas duas ultimas semanas, em vários pontos, a empresa deixou de recolher os galhos cortados, que ficaram espalhados pelas vias e passeios públicos. “A gente paga para podar as árvores desse lado. Mas olha do outro lado onde a Cemat fez o corte. Fica essa coisa horrível”, comentou o proprietário de uma empresa de lava jato, na Rua das Primaveras, Jardim Botânico. “Faz mais de uma semana que os galhos estão espalhados. As folhas secas já estão entrando na loja”, reclamou a proprietária de uma empresa de aberturas, na Avenida dos Jacarandás.

A secretária de Meio Ambiente de Sinop, Cristina Ferri, diz que o embate com a concessionária de energia é antigo. “No passado chegamos a promover uma capacitação para esses profissionais que fazem a poda das árvores, para que além de resguardar a rede, o serviço também tivesse a finalidade estética e não comprometesse o crescimento das árvores. Ninguém apareceu no curso”, revela a secretária.

A engenheira agrônoma da prefeitura, Graciela Zanon, informou que diversos ofícios já foram encaminhados para a Cemat, inclusive com orientações e demonstrações de como as podas deveriam ser feitas. O documento toma como base o tutorial desenvolvido pela Rede Cemig, concessionária de energia de Minas Gerais, em consonância com o Código Municipal de Meio Ambiente. “A resposta foi que a empresa se atem a fazer a poda para evitar o contato dos galhos com a rede elétrica”, comentou.

Segundo o engenheiro florestal da secretaria de Meio Ambiente em Sinop, Adriano Sattler, além da estética desfavorável, esse tipo de poda compromete a vida das árvores. “A sibipiruna é uma espécie que não aceita podas maiores. A árvore fica vulnerável ao ataque de cupins e acaba tendo sua estrutura comprometida. Ou seja, a poda mal feita antecipa a morte da árvore”, explicou.

Já os oitis, que compõem a maioria da arborização de Sinop, são mais tolerantes as podas, recomenda o engenheiro.

Cemat justifica

Através da sua assessoria de imprensa, a concessionária de energia disse que executa a “poda técnica”, que se restringe a evitar o contato das árvores com a rede, prevenindo desligamentos e acidentes com a energização da planta.

O serviço é realizado por uma empresa terceirizada. As imagens feitas pela reportagem foram encaminhadas para a assessoria. Em resposta, a Cemat disse que essa poda agressiva já foi abolida a anos e que irá promover uma reciclagem das empresas contratadas. “Na próxima semana iniciaremos o agendamento de cursos, junto ao departamento de Meio Ambiente da Cemat, para que a técnica correta seja empregada pelos prestadores de serviço”, explicou a assessoria.

Quanto a poda estética, a concessionária entende que deve ficar a cargo de cada morador, podendo fazê-la após o corte feito pela Cemat, sem perigo de contato com a rede elétrica.

Referente aos galhos e folhas não recolhidos, a assessoria informou que entrou em contato com a empresa terceirizada (após o contato da nossa reportagem), e a mesma informou que o caminhão estava quebrado. Tal informação não havia sido repassada antes. Na manhã dessa quinta-feira (29), a empresa começou a recolher os resíduos.