BR-163 é pequena para Sinop

Nem a ampliação programa para 2019 irá evitar os engarrafamentos sobre a rodovia

É o que aponta o Estudo de Tráfego elaborado pela Transitus Engenharia de Transporte e Trânsito, uma empresa de Minas Gerais especializada no diagnóstico das estruturas viárias, com trabalhos por todo país. A Transitus foi contratada para avaliar as condições atuais e as projeções futuras da BR-163 no trecho urbano de Sinop.

O resultado gerou estatísticas contundentes sobre a dimensão do trânsito comportado pela rodovia federal. Os números comprovam aquela sensação que os motoristas tem ao utilizar a rodovia nos horários de pico – principalmente para atravessar de um lado para o outro da cidade.

Após fazer o levantamento da estrutura instalada na BR-163, a Transitus realizou uma contagem volumétrica em março de 2015. Basicamente o que a empresa fez foi registrar o número de veículos sobre a rodovia no intervalo de um dia. Para quantificar o trânsito da rodovia foram instaladas câmeras Miosion em 26 pontos da BR-163, em acessos e travessias. Em 3 destes pontos o monitoramento teve duração de 24 horas, em 4 por 16 horas e nos 19 restantes, 2 horas de coleta de dados (aleatórias). As imagens foram processadas por um software. O sistema calculou o padrão do tráfego local e gerou os números médios dos veículos em cada ponto registrado.

O resultado foi 230.952 veículos passaram nos 26 pontos ao longo de um dia, no sentido Norte-Sul da rodovia. No caminho oposto, Sul-Norte, foram 229.914. Ou seja, uma média de 9,5 mil veículos por hora – 2,6 por segundo!

A câmera que registrou maior movimentação de veículos foi a instalada no km 833,3 da rodovia, entre as Avenidas dos Jatobás e Flamboyants. Nesse trecho foram contados 17 mil veículos – um veículo a cada 5 segundos. Ao comparar as medições nos diferentes trechos a Transitus conseguiu verificar a diluição do fluxo ao longo do perímetro urbano da rodovia. Enquanto no ponto com maior contagem foram filmados 17 mil veículos, no km 837 (entroncamento com a Avenida dos Pinheiros), foram apenas 4.166 veículos registrados ao longo de um dia. A variação mostra o comportamento do trânsito local, identificando quais são os pontos mais críticos (utilizados) e quais são os menos acessados pelos condutores que trafegam em Sinop. Na média geral foram contados 8.882 veículos por ponto monitorado.

Também foram diagnosticados os tipos de veículos sobre a rodovia. Conforme a contagem, 47% são automóveis (carros de passeio, camionetes) e 13% são caminhões – o que mostra que Sinop está na rota logística da produção. Os 40% restantes são motos e transporte de passageiros, como vans e ônibus. A estatística remete, basicamente a composição da frota urbana oficial de Sinop, uma cidade em que as motocicletas são um transporte recorrente.

Outro índice levantado pela Transitus foi o número de veículos que atravessam a BR-163, indo de um ponto ao outro da cidade que é cortada pela rodovia. Conforme o estudo, todos os dias 13 mil veículos cruzam a BR-163 no sentido oeste-leste e o mesmo volume no sentido leste-oeste. A diferença é de apenas 18 veículos entre as duas contagens. Isso significa que o sinopense sai de casa (no lado oeste da cidade), cruza a rodovia para chegar ao seu trabalho ou estudo e retorna no final da jornada para sua residência. Dos 13 mil veículos contados, apenas 725 foram classificados como comerciais (caminhões leves/vans/utilitários).

E metade desses sinopenses passa pelo viaduto central, em formato de trevo, instalado no km 835 da rodovia. No acesso entre as avenidas Julio Campos e Alexandre Ferronatto foram contados 6,5 mil veículos. Contagem real. Esse trecho foi um dos pontos onde as câmeras ficaram ligadas por 24 horas consecutivas. O segundo ponto mais utilizado pelos condutores para fazer a travessia da rodovia é o km 834, onde está a junção com a Avenida dos Tarumãs. Nesse ponto foram 1,6 mil veículos contados. No km 831 onde a BR-163 dá acesso a MT-140, em frente ao Machado Supercenter, foram contados 1,1 mil veículos fazendo a travessia. Na junção com a Avenida dos Jequitibás foram 950 veículos cruzando a rodovia.

A contagem dos veículos foi apenas a base do estudo. Com as estatísticas na mão, a Transitus abasteceu de dados o Aimsun, um microssimulador de tráfego capaz de reproduzir o comportamento individual dos diferentes perfis de motoristas e dos diferentes modelos de veículos. A simulação é feita de forma aleatória no sistema viário. Os dados de Sinop geraram um ambiente de simulação com base nas características locais e a estrutura oferecida. O sistema pode simular longos períodos o mesmo trânsito, chegando a quantificar acidentes, eventuais congestionamentos e a velocidade média do fluxo. As simulações feitas pelo Aimsun geraram um vídeo que foi entregue para a secretaria de Trânsito de Sinop. Agora basta assistir as imagens para identificar quais são os pontos críticos do trânsito sobre a rodovia.

Embora essa seja uma ferramenta preciosa para o município, o objetivo finalista do estudo foi outro. A missão da Transitus foi identificar se a BR-163 está pronta para comportar o crescimento de Sinop.

BR-163 começa o ano de 2035 congestionada

Parece uma manchete feita por um jornalista que pegou carona no DeLorean DMC-12, do filme De Volta Para o Futuro. Mas a previsão não é uma obra de ficção. É ciência. Ao processar os dados coletados na BR-163 no microssimulador de tráfego, a Transitus detectou vários pontos com trânsito lento, o que indica que a estrutura é incompatível com a demanda. As obstruções no tráfego de veículos ocorrem justamente nos pontos de travessia, quando os motoristas tentam acessar o outro lado da rodovia. Ou seja, a BR-163 já está pequena para Sinop.

Mas esse foi o diagnóstico para 2015. Afinal, até 2019 a cidade irá receber investimentos na passagem urbana da rodovia, que serão promovidos pela concessionária Rota do Oeste – empresa do grupo Odebrecht. Logo o trânsito da rodovia deve melhorar, certo?

Errado! A Transitus ajustou a forma da BR-163 em Sinop, reproduzindo as estruturas que devem ser instaladas pela Rota do Oeste até 2019, bem como as mudanças no fluxo de veículos que serão implementadas. Foram adicionados ao sistema os 3 dispositivos diamante que serão instalados pela concessionária, bem como a orientação do fluxo nas perimetrais Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, que serão em mão única. Em suma, a Transitus desenhou a BR-163 que Sinop terá em 2019 e colocou para rodar sobre ela o trânsito que foi registrado em março de 2015.

Com o trânsito de hoje, em 2019, quando estarão implementadas as mudanças pela Rota do Oeste, a BR-163 funciona bem – com exceção do km 831,5. Já na simulação atual feita pelo programa da Transitus, o dispositivo diamante que será instalado no acesso à MT-140 e ao Supermercado Machado, apresenta problema. “A matriz funciona sem apresentar problemas para a área urbana, mas foi identificado movimentos conflituosos de tráfego urbano versus o rodoviário no Diamante do km 831,5. Percebe-se que a rodovia se mostra com tráfego em boa velocidade, mas não no Diamante do km 831,5”, relata trecho do estudo da Transitus. Ou seja, haverão problemas imediatos.

Como essas serão as únicas estruturas instaladas em Sinop pela Rota do Oeste até o final da concessão da BR-163, o estudo optou por estender a microssimulação do tráfego até 2045, quando encerra a terceirização da rodovia.

Várias fórmulas de engenharia de trânsito foram aplicadas para chegar neste resultado. Para estimar o crescimento da cidade e do tráfego de veículos a empresa utilizou os referências históricos. Foi considerado que o fluxo de veículos cresce na casa dos 6% ao ano na BR-163 e que Sinop tem uma evolução demográfica média de 3,2% ao ano.

Na simulação Sinop chega ao ano de 2035 com 246 mil habitantes – patamar que os entusiastas locais acreditam que virá com pelo menos uma década de antecedência. Nessa projeção “pé no chão” Sinop teria ao final da concessão, em 2045, mais de 340 mil habitantes. E nesse cenário a BR-163 é um problema viário.

O vídeo de simulação mostra engarrafamento no Diamante do km 831,5 (trevo da MT-140) no ano de 2045. As filas de veículos interferem no funcionamento da rodovia ocasionando lentidão em diversos momentos da simulação.

Em 2045, o viaduto central de Sinop, no km 835,5, tem sobrecarga em uma das alças de acesso, ocasionando filas que atingem a rodovia. O fluxo por baixo do viaduto também é estrangulado, criando congestionamentos na rotatória entre a Avenida Julio Campos e a Perimetral Ênio Pipino.

O dispositivo diamante no km 838,9, na altura da Avenida Perimetral Norte foi o único a operar em boas condições mesmo em 2045. Fora da competência da Rota do Oeste, a Transitus alertou para a necessidade de promover alterações na área urbana de Sinop para não comprometer o trânsito. A orientação foi para pavimentar a Avenida Maringá e a Estrada Adalgiza, nos fundos do Machado Supercenter. Ambas obras já estão programadas para 2016 (veja a matéria sobre as novas avenidas nesta edição).

Com o diagnóstico de que as obras propostas no Plano de Concessão não irão funcionar como deveriam, a Transitus foi promovendo adequações nas estruturas até encontrar um resultado satisfatório.

Os engenheiros inseriram na simulação tráfego dois viadutos, localizados nos km 834,5 e km 836,4, que correspondem as junções com as Avenidas dos Tarumãs e Avenida das Palmeiras, principais arteriais da cidade. Os sistemas tem como objetivo facilitar a travessia sobre a rodovia, dos usuários que se deslocam do lado direito para o esquerdo de Sinop. Também foram adicionadas alças de acesso próximas ao viaduto central, além de semáforos em alguns pontos das perimetrais. A estrutura do Diamante do km 831,5 (trevo com a MT-140), foi reconfigurada, alterando a disposição dos acessos.

Com as mudanças implementadas o trânsito de hoje e de 2045 foi colocado para rodar no simulador. Foi o suficiente para evitar a trágica manchete de que Sinop começa o ano de 2045 com engarrafamento na BR-163.

Os vídeos com os resultados das simulações foram enviados para a Rota do Oeste. A secretaria municipal de trânsito também recebeu uma cópia. Conforme a secretária Ivete Mallmann, o estudo ajudará o município a reinvindicar melhorias na estrutura da BR-163 junto a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), responsável pela concessão da rodovia. “O resultado pode ser ainda mais grave. O estudo analisou apenas o espaço entre a perimetral Norte e a MT-140. A região do grande Sebastião de Matos, onde estão grandes conjuntos habitacionais populares de Sinop não foi analisada. Também não está projetado no estudo os futuros residenciais que serão lançados, como o Nico Baracat, na MT-140, onde estão sendo construídos 3 mil apartamentos. Ou seja, o diamante previsto para esse trevo, que já apresenta problema na simulação atual, pode simplesmente não funcionar”, alerta a secretária de Trânsito.

Por isso o estudo da Transitus será “aditivado” pelo município para que Sinop, que eclodiu graças a BR-163, não seja estrangulado por ela.