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Exclusiva

Brasileiro revelará o rosto de Maria Madalena para o mundo

Designer 3D de Sinop reconstruiu a face da súdita preferida de Jesus a partir do seu crânio

Geral | 20 de Fevereiro de 2015 as 16h 25min
Fonte: Jamerson Miléski

Imagem encoberta recriada a partir do crânio de Maria Madalena |

Uma das personagens mais representativas da história, transcrita pelos textos bíblicos e envolta a folclores, terá seu rosto revelado para o mundo pelas mãos de um brasileiro. O designer 3D de Sinop (Mato Grosso), Cícero Moraes é o responsável pelo trabalho que recriou a face de Maria Madalena a partir do seu crânio.

Cícero é vice coordenador da Ebrafol (Equipe Brasileira de Antropologia Forense e Odontologia Legal) e integrante do grupo de pesquisas arqueológicas Arc-Team da Itália. Seu trabalho ganhou destaque mundial após a reconstrução forense feita a partir do crânio de Santo Antônio, a pedido da Universidade de Pádua. Foi a repercussão da imagem do santo que levou o designer para essa nova missão.

Após ver a reportagem em rede nacional, o advogado, pesquisador e escritor cearense, José Luís Lira, entrou em contato com Cícero. Ex-seminarista, membro da Abrhagi (Associação Brasileira de Hagiologia), e estudioso de relíquias católicas, Lira informou o designer da existência do crânio preservado de Maria Madalena. “Aquela Maria Madalena? Perguntei a ele”, conta Cícero.

A resposta foi afirmativa e o interesse na reconstrução imediato. A partir da conversa iniciou-se uma conexão entre Sinop, Ceará e Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, uma cidade no Sul da França. É lá, no relicário da basílica de Sainte-Marie-Madeleine, que está guardada a relíquia católica com o crânio de Maria Madalena. “Eu nem sabia que existia o registro ou mesmo o crânio preservado”, revelou Cícero.

Lira e Cícero iniciaram o contato com o padre Florian Racine, que após uma resistência inicial levou o diálogo ao monsenhor Dominique Rey, bispo de Fréus e tutor da relíquia. “Trocamos alguns e-mails e revelamos nossa intenção, científica e histórica, sem desrespeitar a crença e a fé católica. Eles compreenderam e nos enviaram fotos do crânio que possibilitaram a reconstrução”, explica Cícero.

O rosto de Maria Madalena será apresentado para o mundo no dia 19 de julho deste ano, no primeiro dia das festividades promovidas pela basílica em honra a Santa Maria Madalena, o “Adoratio 2015” (www.adoratio2015.com). Assim como ocorreu com Santo Antônio, a face será revelada em um evento oficial promovido pela Igreja Católica.

 

É a mesma Maria Madalena de Jesus?

Todos os indícios, registros históricos e tradições apontam que sim, trata-se do crânio da Maria Madalena citada nas passagens bíblicas. A relíquia foi reconhecida e visitada, ao longo da história, por 8 reis, 4 papas e 4 evangelistas que posteriormente seriam reconhecidos como santos.

A história, que mescla narrativas transcritas na Bíblia com a tradição do sul da França, conta que, após Pentecostes (que segundo a crença católica é a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo), Maria Madalena, assim como os demais súditos de Cristo, deixou a Palestina, fugindo das perseguições e disseminando a palavra. Junto com Lázaro e Marta (seus irmãos), São Maximino e São Sidônio (o cego curado por Cristo), Maria Madalena chegou ao Sul da França em uma pequena embarcação. Lázaro foi o primeiro bispo de Marselha, uma das principais cidade da França. Maximino, antigo mordomo da casa de Betânia (família de Lázaro), foi o primeiro bispo de Provença e, mais tarde emprestou o nome a cidade. A tradição francesa diz que Madalena dedicou-se a disseminação dos ensinamentos de Cristo, acompanhando São João Evangelista por um tempo. Por 30 anos viveu em cavernas nos Alpes e no ano de 49 depois de Cristo recebeu a extrema-unção, sendo seu corpo preservado no interior da Igreja Saint-Maximin-a-Sainte-Baume.

E por lá descansaram os restos da súdita preferida de Jesus por mais de 1200 anos, até serem descobertos pelo Prícipe de Salerno e futuro Rei de Nápoles, Carlos II, em 9 de setembro de 1.279. O crânio ganhou status de relíquia católica em 1.600, quando o Papa Clemente VIII determinou a construção de um sarcófago apropriado para abrigar os ossos de Maria Madalena.

Durante a revolução francesa (1.789) as relíquias foram provadas pelos revoltos e invasores e por pouco o registro não se perdeu. Apenas em 1.814 o templo foi restaurado e a relíquia com a cabeça de Maria Madalena foi recuperada.

Hoje o crânio de Maria Madalena é mantido em um relicário de ouro, com o formato de um busto de uma mulher. A máscara de ouro com o seu “rosto” se abre, revelando atrás de uma redoma de vidro o crânio. Assim como o padre Racine “abriu” a máscara, colocando-a de lado para registrar as imagens do antigo osso, Cícero irá retirar esse véu e revelar o rosto que um dia contemplou Cristo.

 

É a prostituta?

Segundo Cícero, esse foi um dos maiores aprendizados desse trabalho. “Percebi que antes de reproduzirmos uma história ou passar algo a diante, é preciso tentar conhecer o que de fato é”, revelou o designer.

Assim como a maioria das pessoas, Cícero conhecia Maria Madalena como a prostituta que Cristo evitou que fosse apedrejada. “Não existe nenhum relato na Bíblia que se tratava de Madalena”, comentou.

A confusão com as Madalenas iniciou em 591, com um sermão do Papa João Gregório, o Grande, que identificou as 3 “mulheres” listadas nas passagens de Jesus como a mesma pessoa: Maria Madalena. As outras duas passagens tratam da Madalena que teve 7 demônios expulsos de seu corpo por Jesus e, após isso, abdicou de seus bens e passou a seguir o messias; e outra mais emblemática, em que Madalena lava os pés de Jesus e os seca com seus cabelos.

Quase mil anos depois uma encíclica papal desfez a confusão assinada pelo Papa Gregório, mas ainda assim Madalena ficou taxada como a prostituta da Bíblia em muitas culturas.

Na França ela é Santa, reconhecida como nas escrituras como a primeira pessoa a ver o Cristo após a sua ressureição. Mesmo tendo seu evangelho excluído da Bíblia, Madalena é considerada importante personagem na história do cristianismo.