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Especial

Conheça o destino final do lixo de Sinop

Aterro sanitário localizado em Sorriso é o destino final do lixo doméstico produzido em Sinop

Geral | 10 de Julho de 2017 as 21h 45min
Fonte: Jamerson Miléski

Todos os dias, aproximadamente 100 toneladas de lixo são recolhidas na cidade de Sinop. Até o final de 2016, essa montanha de resíduos era despejada no lixão municipal, a céu aberto, sem qualquer tipo de tratamento.

Em setembro de 2016 a prefeitura de Sinop deu um passo importante no processo de regularização dos seus resíduos sólidos. Para se enquadrar na lei 12.305/2010, a prefeitura lançou uma licitação para contratar a coleta, transbordo e destinação final dos resíduos sólidos. Três empresas foram contratadas para realizar os serviços, cada uma operando em um setor. A Sanetran ficou responsável pela coleta, a Ecopav Construções e Soluções Urbanas pelo transbordo e transporte do lixo e a Sanorte Saneamento Ambiental pela destinação final. Esses 3 serviços tem um custo anual de aproximadamente R$ 11,4 milhões.

A medida tirou Sinop da ilegalidade, desativando em definitivo o Lixão municipal. Desde dezembro de 2016, o lixo doméstico é coletado de acordo com as normas sanitárias e despejado na estação de transbordo, que fica em um imóvel da prefeitura, próximo ao bairro Alto da Glória. Lá o lixo que é recolhido pelos caminhões de coleta é depositado em carretas, com caçambas do tipo contêiner. Vedado, o resíduo de Sinop viaja cerca de 120 km até o distrito de Primaverinha, no município de Sorriso. É nesse local que está o único aterro sanitário da Sanorte.

Para mostrar a estrutura que está recebendo o lixo de Sinop, a Sanorte convidou neste sábado (8), a imprensa local para acompanhar o funcionamento do aterro sanitário. A engenheira ambiental e de segurança do trabalho, Renata Grasel, que coordena a operação do aterro, guiou a visita.

Renata Grasel, engenheira da Sanorte guiou a visita da imprensa

O aterro sanitário da Sanorte entrou em operação no ano de 2013, após uma maratona de 4 anos nos órgãos ambientais para superar as burocracias e desconfianças da população local. Hoje a estrutura recebe aproximadamente 200 toneladas de lixo por dia, oriundas de 12 municípios do médio Norte de Mato Grosso. Sem o aterro da Sanorte, esses municípios teriam dificuldades para dar a destinação ambientalmente correta para seus resíduos.

A estrutura está sobre uma área de 147 hectares, dos quais aproximadamente 10,5 hectares concentram a área de depósito do lixo. Segundo Renata a vida útil desse aterro foi programada para 30 anos. “Esse prazo pode ser maior ou menor, de acordo com o resultado dos monitoramentos e avaliações que são feitas, dentro da norma ambiental. Uma vez encerrada a atividade do aterro, a empresa continuará por mais 20 anos com o monitoramento pós-fechamento”, revela a engenheira.

O principal objetivo do convite feito à imprensa foi mostrar a diferença entre um “lixão” e o aterro sanitário que recebe os resíduos de Sinop. E ela é gritante. Logo na entrada da propriedade da Sanorte está o primeiro dispositivo de contenção. A área é cercada por uma “cortina vegetal”, com salsão do campo e eucalipto-cheiroso, que solta um aroma agradável no ar. Conforme a engenheira, o cerco verde tem a função de conter o odor do lixo, sendo uma barreira para ventos e também som.

O lixo que chega ao aterro em caminhões é pesado antes de ser depositado. A conferência de peso é, principalmente, para o controle interno da Sanorte, que precisa calcular a carga acumulada em sua estrutura. O pagamento da prefeitura, que é por tonelada de lixo destinado, é feito com base na menor pesagem. O resíduo é pesado pela empresa de coleta, de transbordo e pela Sanorte. A menor quantia das 3 será a referência para o pagamento do serviço.

Segundo Renata, o aterro da Sanorte possui 19 programas de monitoramento. Acompanhados por uma equipe multidisciplinar, os programas tem a função de identificar qualquer alteração que o funcionamento do aterro esteja causando ao meio ambiente. Qualidade das águas no subsolo, comportamento da fauna e da flora, volume e composição dos resíduos, drenagem das águas da chuva e até a movimentação do solo em função do peso do lixo acumulado são monitorados através desses programas. “O acompanhamento frequente faz com que tenhamos informações para identificar qualquer situação de risco de forma precoce, evitando danos ambientais de grandes proporções”, explica a engenheira.

Monitoramento que começa antes da implantação do aterro. Como o acompanhamento da qualidade das águas do lençol freático – uma das principais preocupações ambientais do lixo acumulado. Quando iniciou a implantação, a Sanorte perfurou o primeiro poço de monitoramento, com 15 metros de profundidade, na parte mais alta da área do aterro. Dele são coletadas amostras de água de 3 em 3 meses. O histórico da composição da água é constantemente comparado com amostras coletadas em outros 3 poços, que ficam na parte mais baixa e próxima do aterro. Ou seja, qualquer mudança na água do subsolo será detectada.

 

Como funciona o aterro

O processo de aterramento do lixo começa com a escavação do solo. Na unidade da Sanorte, são 4 metros de profundidade a partir do nível normal do terreno. Conforme explica a engenheira, a implantação da estrutura é feita de forma gradual, de acordo com a demanda de resíduos que dão entrada no aterro. Ou seja, não se trata de abrir uma grande vala e despejar lixo nela.

Área escavada que forma a "vala" do aterro

Após a primeira escavação, o solo recebe uma camada com 50 cm de espessura de argila e cascalho. Esse material é densamente compactado e funciona como a primeira impermeabilização do solo. Sobre a argila compactada é estendida uma geomembrana, uma espécie de lona de alta resistência, com 1,5 mm de espessura, soldadas em suas emendas. Sobre a geomembrana é colocada mais uma camada de argila compactada, idêntica a anterior. “Isso sobra a capacidade de impermeabilização do aterro e evita que a lona se rompa”, revela Renata.

Com a “calha” pronta, o lixo já pode ser depositado. Os resíduos que chegam em carretadas fechadas são espalhados e compactados por um trator de esteira. O equipamento pesado rasga as embalagens, otimizando a disposição do lixo no aterro. Quando a camada de lixo compactado atinge 3,5 metros de altura, uma carga de terra é jogada por cima e compactada.

Isso faz com que não haja lixo constantemente exposto. Segundo Renata, essa é a razão pela qual não há urubus no aterro de Sorriso – aves abundantes no lixão de Sinop. “O que temos aqui são garças, que são aves migratórias bastante úteis para nós. Elas se alimentam das larvas das moscas que estão no lixo, evitando a proliferação desses insetos”, ensina Renata.

O almoço das garças é “fast-food”. Assim que o lixo é esparramado para compactação, a revoada de pássaros ataca a carga. Instantes depois o resíduo é compactado e coberto por terra.

Camada de lixo compactado do terceiro talude sendo coberta por terra

Cada camada de lixo compactado coberto com terra é chamada de talude. A primeira camada atinge o nível normal do terreno. A partir disso, os resíduos começam a ser empilhados, em um formato similar a uma pirâmide. Conforme Renata, no aterro de Sorriso são 6 camadas com 4 metros de altura cada, intercalando lixo e terra. Quando a última camada é concluída, a área é revestida com grama, o que evita erosões e diminui a infiltração da água das chuvas no lixo.

Ponto onde o aterro já chegou a quinta camada, com grama plantada, dutos de drenagem de gás e água da chuva

Todo o aterro tem uma ampla rede de drenagem para a água das chuvas. Segundo Renata, as aguas são uma das principais preocupações em um aterro, pois podem comprometer a estabilidade do solo e do maciço (nome dado ao lixo compactado).

Embaixo da terra, o lixo começa seu processo de decomposição. Bactérias se alimentam dos resíduos, gerando gás metano e o chorume, que fica retido nas camadas de impermeabilização. Para retirar o gás e o chorume, o aterro conta com uma rede interna de drenagem. São dutos feitos com pedra em meio a camada de lixo, repetidos em cada um dos taludes. A cada 30 metros, esses dutos são conectados a uma torre de ferro armado e pedras, que vão até o topo do aterro. Com a gravidade, o chorume escorre pelos dutos e é drenado do restante do lixo. Esse líquido é recolhido e encaminhado para o tratamento, em lagoas impermeabilizadas. O chorume passa por 7 etapas diferentes de tratamento, biológicos e químicos, até estar pronto para ser devolvido ao meio ambiente. Parte da água evapora pela ação do sol, o que funciona muito bem no Mato Grosso, que tem forte insolação. O restante do resíduo líquido pode ser diluído e descartado em um córrego, sem poluí-lo. O lodo, que é a parte sólida, é depositado no aterro.

Embaixo, os dutos e a torre da rede de drenagem de chorume e gás

Pelas torres conectadas ao sistema de drenagem do chorume escoa o metano. O gás sai do subsolo em tubos de concreto, de forma constante, onde é queimado. Segundo a engenheira, a queima do gás é importante para promover a quebra das moléculas, reduzindo assim o potencial poluente do metano.

Até o momento a Sanorte não tem um aproveitamento “comercial” desse metano. Aterros de maior porte, com um volume superior de gás gerado pelo lixo, costumam utilizar para geração de energia. Conforme Renata, a tecnologia disponível até então tornava inviável o aproveitamento do gás em aterros menores ou recentes, como é o caso de Sorriso. “Recentemente iniciamos os estudos de um novo sistema para aproveitamento do gás e geração de energia. Estamos na fase de avaliação. Ao que tudo indica, em breve estaremos dando uma destinação mais sustentável para esse resíduo”, informa Renata. Segundo a engenheira, essa não é uma questão “comercial”, e sim ambiental. “O que vamos fazer é reduzir o gasto de energia da propriedade utilizando um resíduo. A empresa não tem intenção de explorar a geração de energia como negócio”, completou.

Estação de tratamento do chorume

Estes dispositivos instalados no aterro sanitário são o que diferenciam a estrutura de um lixão. Na prática, o sistema de aterramento não gera contaminação do solo e das águas, promove o tratamento do chorume e a canalização gases, evitando incêndios e não deixa lixo a céu aberto. Sem resíduo exposto, diminui a proliferação de animais – de urubus a mosquitos – e, principalmente, o cheiro. Enquanto no lixão de Sinop é possível sentir o odor nauseante à quilômetros de distância, no aterro de Sorriso a imprensa almoçou na sede da empresa sem qualquer sensação de desconforto.

 

Preparando um aterro para Sinop

Mostrar a diferença entre um lixão e um aterro sanitário faz parte da estratégia da Sanorte para obter a aceitação da população de Sinop para o empreendimento que a empresa pretende instalar no município. Há 2 anos a Sanorte iniciou os processos ambientais para construção de um aterro sanitário no município, visando melhorar a sua logística de atendimento aos municípios.

A instalação começou em 2015, com a compra da área. Foram sondados 3 imóveis. O que obteve maior aceitação dos órgãos reguladores (SEMA, ANA e até ANAC), foi um terreno localizado entre Sinop e Santa Carmem, próximo a comunidade Branca de Neve. São 101 hectares, dos quais 13 serão utilizados para o aterramento de resíduos. Até o final do processo a Sanorte estima investir R$ 47 milhões na operação do aterro de Sinop.

Nesse momento, o projeto está na fase de licenciamento ambiental. A empresa já vem promovendo um dialogo com a comunidade vizinha do futuro aterro e com as lideranças do município. “Nosso objetivo é esclarecer qual é nosso projeto e informar a população do investimento que queremos para Sinop”, ressaltou Renata.

A primeira audiência pública para discutir a implantação do aterro será realizada no dia 9 de agosto. Essa será a oportunidade de toda população conhecer o projeto e apresentar questionamentos sobre a estrutura. A Sanorte está disposta a receber todas as demandas que forem pertinentes ao projeto.

Se não houverem maiores objeções na audiência e o dialogo com a população for concluído de forma rápida, a empresa poderá finalizar seus estudos de impacto ambiental e protocolar o processo junto a SEMA, solicitando a emissão do licenciamento ambiental. Para iniciar a instalação propriamente dita, é preciso ter a Licença de Instalação. “Em geral a obra de um aterro é rápida. O demorado são os processos de licenciamento e estudo de impacto ambiental, bem como a formulação dos programas de monitoramento, necessários para que o aterro receba a Licença de Operação”, informa a engenheira da Sanorte.

Só com a licença de operação é que a estrutura pode começar a receber o lixo. Segundo Renata, o projeto do aterro de Sinop é uma versão melhorada da estrutura montada em Sorriso. Ao invés de 6 camadas de talude, o projeto de Sinop prevê 5 camadas. Serão 8 poços de monitoramento das águas subterrâneas – o dobro do existente na estrutura de Sorriso. No imóvel escolhido pela Sanorte, o lençol freático está há 15 metros do nível mais profundo do aterro; 3 vezes a distância de segurança estabelecida pela norma.

A localização é um dos pontos fortes desse empreendimento. O imóvel que receberá o aterro não está na área de expansão urbana de Sinop. O aterro ficará no lado oposto do aeroporto, distante mais de 25km, conforme determina a norma da ANAC. O acesso é facilitado, pela MT-140, uma rodovia estadual pavimentada.

Os moradores da Comunidade Branca de Neve não precisarão se preocupar. A residência mais próxima da área determinada para o aterro fica a 1,5 km – 3 vezes mais distante do que a lei determina e o suficiente para não ser atingida pelo odor do lixo.

O aterro terá capacidade para 200 toneladas de lixo por dia. É praticamente o dobro do que Sinop produz hoje. Isso porque, o plano da Sanonorte é atender com o aterro outros 8 municípios que precisam dar a devida destinação para seus resíduos mas não possuem volume suficiente para viabilizar um aterro sanitário local. “Micro-aterros, construídos no Brasil e geridos pelo poder público tem se mostrado uma solução falha. Muitas estruturas assim se transformaram em lixões, gerando um problema ambiental”, alerta Renata.

Para a secretária de Meio Ambiente de Sinop, Luciane Copetti, a implantação do aterro da Sanorte no município é um ponto positivo. Segundo ela, a empresa acumula know-how nesse tipo de atividade e sua estrutura em Sorriso é uma referência em termos ambientais. “Sinop e os demais municípios do entorno precisam dar uma destinação correta para seus resíduos e é muito difícil para o poder público operar de forma segura e constante um aterro sanitário. Ter a iniciativa privada investindo nisso, sem qualquer vínculo com a prefeitura, significa mais opção para destinarmos o nosso lixo”, comenta Copetti.

Segundo a secretária, atualmente o município gasta com o transbordo e o transporte do lixo até Sorriso R$ 72,00 por tonelada. Com um aterro local, esse custo seria significativamente reduzido. Quanto menos a prefeitura gastar para destinar o seu lixo, menor será o valor da taxa de lixo paga por cada contribuinte.