Medicina
De abundante a quase extinta, a poaia é pesquisada em Mato Grosso
A presença da poaia já foi abundante em Mato Grosso, hoje está em extinção
Geral | 06 de Janeiro de 2017 as 19h 20min
Fonte: Assessoria
Com o intuito de preservar espécies de importância medicinal ameaçadas de extinção, alguns estudos estão em andamento na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). A poaia, como é conhecida a Carapicheia ipecacuanha, foi classificada como vulnerável a extinção na lista vermelha da flora do Brasil.
A planta é uma espécie medicinal brasileira que tem em suas raízes dois princípios ativos importantes para a indústria farmacêutica a emetina e a cefalina. A partir deles é possível produzir expectorantes, antiamebicidas e antiinflamatórios. Bastante conhecido no Brasil, o xarope Melagrião possui em sua composição princípios ativos da poaia.
A pesquisadora Celice Alexandre Silva, doutora em Botânica e pós doutora em Biologia Reprodutiva de Plantas, estuda a poaia há cerca de quatro anos e mantém atualmente no câmpus da Unemat, em Tangará da Serra, um banco de germoplasma de sete populações de poaia oriundas dos municípios mato-grossenses de Barra do Bugres, Cáceres, Denise, Nova Olímpia, São José dos Quatro Marcos, Tangará da Serra e Vila Bela da Santíssima Trindade.
A presença da poaia já foi abundante em Mato Grosso, mas a exploração extrativista durante as décadas de 1960 e 1970 é a forte indicadora do seu quase desaparecimento. Na época, os poaieiros garantiam seus sustentos, durante os meses de chuva, e movimentavam a economia do Estado com raízes de poaia.
Segundo estudos, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ), a concentração de teor de emetina da poaia de Mato Grosso é oito vezes maior quando comparado aos teores de substância de poaias ocorrentes na Mata Atlântica brasileira.
A espécie que vive em regiões sombreadas e úmidas, ainda hoje, pode ser encontrada em pequenas populações mas estão ameaçadas de desaparecer completamente, devido ao avanço da fronteira agrícola. Além disso, os fragmentos florestais presentes em Barra do Bugres, Cáceres, Denise, Nova Olímpia, São José dos Quatro Marcos, Tangará da Serra e Vila Bela da Santíssima Trindade estão sujeitos a outros fatores que ameaçam a permanência da poaia, entre eles alterações climáticas como as secas.
Para entender os efeitos das mudanças climáticas sobre espécies de importância medicinal e econômica o projeto “Distribuição potencial de espécies de interesse medicinal e bioindicadoras sob efeito de mudanças climática e antrópicas para o Estado de Mato Grosso” coordenado por Celice Alexandre Silva foi aprovado pelo edital Fapemat nº 037/2016, de apoio a Programa de Redes de Pesquisa.
O projeto conta com as parcerias da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), UFRRJ, Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC/Espanha) e com o envolvimento direto de dez pesquisadores.
Nos próximos três anos, período que envolve a execução do projeto, os pesquisadores pretendem encontrar respostas para questões de como o impacto das mudanças climáticas e antrópicas interferem na distribuição geográfica de espécies no estado de Mato Grosso.
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