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Leilão infantil

Desfile de crianças para adoção causa mal-estar e críticas

Na passarela, em um shopping, “candidatos” à adoção foram apresentados para o público

Geral | 22 de Maio de 2019 as 14h 14min
Fonte: Allan Pereira RDNews

Allan Pereira RDNews

Está provocando mal-estar, polêmica e até repercussão nacional o desfile realizado em Cuiabá, na noite desta terça (21), no Pantanal Shopping, expondo crianças e adolescentes, de 4 a 17 anos, que estão aptos à adoção.

O desfile, que chama “Adoção na Passarela”, faz parte da Semana da Adoção e tem o objetivo, conforme os organizadores do evento, de facilitar o acesso de pretensos pais aos que estão tutelados pelo Estado em abrigos.

As críticas apontam que, desta maneira, estão tratados como "gado à venda” ou modelo publicitário, e que a escolha, neste caso, seria feita com base no biotipo e não um elo de afeto real, semelhante a quando se escolhe um objeto.

O jornalista Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada, rechaçou: “Quando se pensa que o Brasil é capaz de tudo, aparece uma inovação alucinada: uma passarela para que crianças de 4 a 17 anos desfilem diante de futuros pais como se fossem modelos! Seguramente, a ideia deriva da SP Fashion Week, com a coreografia e o know-how da cultura do espetáculo com que a Globo contaminou o Brasil”.

O ex-presidenciável Guilherme Boulos (Psol) usou o Twitter para informar sobre o que considera uma "perversidade".

Um advogado de renome em Cuiabá, Eduardo Mahon, não gostou da iniciativa e criticou no Facebook. “Olha, gente, sem querer ser chato, mas já sendo. Antes de tudo, devo dizer que a Ampara é uma instituição muito séria. Devo, entretanto, pedir mil desculpas a quem pensa diferente e à Ampara, mas as crianças na passarela para pretendentes ver o quão bonitas, simpáticas e desenvoltas são, parece-me uma antiga feira de escravos, onde os senhores viam os dentes e o corpo dos africanos para negociar o lance. Não acho legal, aliás, acho péssimo. Não porque seja um desses conservadores que quer esconder, apagar, fingir que não existe rejeição social etc. já estive nessa lista, fiz visitas e sei bem que essas crianças precisam de visibilidade, exposição positiva, ressignificação de lugar e autoestima, mas não assim. Não em uma passarela, não em um shopping, não para o público aberto."

Também no Facebook, um professor universitário criticou. "E esse evento, onde crianças, que estão esperando pais adotivos, são expostas feito gado? Esse país perdeu completamente o bom senso. ISSO É ERRADO", opina.

Outros demonstram preocupação com o estado emocional dos "modelos", saindo de lá da mesma forma que entraram, ou seja, abrigados.

Este é o segundo ano que a Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) realiza o desfile, em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-МT).

A Ampara faz um trabalho paralelo ao Poder Judiciário, ministra cursos para pais adotantes e se dispõe a apoiar quem opta por adotar uma criança.

O falou com Ana Regina, da Ampara, sobre a repercussão negativa. Ela disse que viu as críticas ao desfile, mas assegura que, apesar das posições contrárias ao evento, as pessoas que foram conseguiram entender a proposta e ver a realidade das crianças que, uma vez rejeitadas por pais biológicos e familiares, esperam ansiosamente por um lar.

 “A gente viu alguns comentários meio sem noção antes do evento e de pessoas que nem conhecem a causa. Mas graças a Deus, tivemos retorno muito positivo do evento. Foram comentários de pessoas que sequer conheciam a primeira edição”, disse.

A polêmica gerou uma petição on line contra o desfile.

 

Organizadores

A reportagem tentou falar com outras referências da Ampara, mas, até o fechamento desta matéria, estavam ocupadas com a organização da Semana que traz extensa programação.

Além do desfile, hoje (22), haverá solenidade de premiação do IX Concurso de Redação do Plenário 1 do Tribunal de Justiça (TJMT). No dia 23, a população poderá acompanhar a palestra sobre “Adoção: da concepção à convivência familiar", no auditório da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), das 7h30 às 12h. Para finalizar, na sexta (25), será promovida a Caminhada da Adoção, no Parque das Águas, a partir das 17h.

Entre os parceiros estão: Governo de Mato Grosso, Tribunal de Justiça (TJMT), OAB Mato Grosso (OAB/MT), Ministério Público do Estado (MPMT), Conselhos Municipal e Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA/Cedca-MT), UFMT, Coral Canto e Encanto, Sindicato dos Oficiais de Justiça e Avaliadores (Sindojus/MT), Associação de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), as empresas Tube, CVC e Pantanal Shopping.