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Hidrelétrica Teles Pires enche reservatório sem terminar a supressão vegetal

Ação pode provocar efeito estufa após a decomposição das árvores alagadas

Geral | 19 de Janeiro de 2015 as 16h 30min
Fonte: Alexandre Alves

imagens do reservatório da UHE Teles Pires | Alexandre Alves

A Usina Hidrelétrica de Energia (UHE) Teles Pires iniciou, no final de 2014, o enchimento do reservatório do empreendimento energético, que está em fase final de construção no município de Paranaíta (360km ao Norte de Sinop). Após entrar em operação com todas as turbinas, a usina terá capacidade para gerar 1.820 megawatts de energia.

No entanto, há suspeita que a supressão vegetal (retirada de toda a vegetação na área atingida pela represa) não tenha sido efetuada corretamente – ou fora feita parcialmente. De acordo com o licenciamento expedido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), todas as árvores e galhadas devem ser suprimidas para evitar, no futuro, o ‘efeito estufa’ (o gás carbônico é emitido quando folhas e plantas apodrecem dentro dos rios).

A desconfiança de que algo está errado partiu de uma fonte que sobrevoou a região da UHE na primeira semana de janeiro. Ao observar galhadas e até toras de madeira boiando, a fonte fotografou e encaminhou à reportagem. “Fiquei espantado ao ver o avanço da água da represa sem a supressão vegetal estar concluída”, disse.

O biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Philip Fearnside comentou em entrevista por telefone, que o acompanhamento feito por ele nas questões ambientais da UHE Teles Pires revela que mais da metade da vegetação não será retirada. “A área total a ser inundada é de 9.4 mil hectares. Um cálculo feito pelo Instituto Centro de Vida a partir de uma imagem de satélite de setembro de 2014 indica que ainda havia 6.4 mil hectares de floresta não desmatada na área da represa dessa UHE”, diz Philip. “E aparentemente nada será feito para evitar isso”, comenta Fearnside, que também é membro da Academia Brasileira de Ciências.

Procurada, a superintendência do Ibama em Mato Grosso informou que todos os procedimentos envolvendo a UHE Teles Pires são feitos pela diretoria de licenciamento, em Brasília. “A diretoria possui uma equipe de analistas ambientais que verifica as condicionantes do licenciamento e se o que está sendo praticado está de acordo com a legislação”, informou, reforçando que eventuais danos ambientais são passíveis de multa e até de embargo.

A reportagem do site Olhar Direto também manteve contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). A secretária Ana Luiza Ávila Peterlini informou que já determinou a tomada de providências.

O secretário executivo da Associação dos Municípios Impactantes por Usinas (Amiu), Rogério Rodrigues, preferiu não se manifestar com relação à UHE Teles Pires, mas disse que acompanha com preocupação o processo de supressão vegetal nas usinas de Colíder e Sinop. “Há suspeita que toras e o material sem fim comercial estejam sendo enterrados na UHE Colíder, o que pode também causar efeito estufa após o enchimento do lago”.

Outro lado

Durante a quinta e sexta-feira (15 e 16 de janeiro), respostas foram buscadas junto à UHE Teles Pires. A assessoria de comunicação ficou de retornar o contato para responder aos questionamentos, mas, até à tarde de sexta-feira, isso não ocorreu.

* A reportagem do Olhar Direto sobrevoou a área neste domingo à tarde e constatou o crime ambiental, conforme as fotos publicadas.