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Votamos a favor do emprego

Notícias dos Poderes | 16 de Outubro de 2018 as 10h 03min

Foi com esse argumento que os vereadores Lindomar Guida, Leonardo Visera e Ícaro Severo voltaram à tribuna da Câmara de Sinop para justificar as suas posições referentes ao projeto de lei que mudou os termos para o incentivo concedido a usina de etanol de milho do Grupo Inpasa – em fase de construção no município. As falas tinham como propósito rebater a entrevista concedida pelo vereador Luciano Chitolina ao site GC Notícias. Nela, Chitolina disse que reprovar o projeto seria imputar ao município de Sinop a pecha de “caloteiro” e completou afirmando que quem votou contra o fez por desinformação.

As declarações de Chitolina afloraram as vaidades dos legisladores. Lindomar fez um discurso passional, dizendo que só tem estudo até a 4ª série e que não tem vergonha disso porque foi eleito por quem tem o mesmo grau de instrução que o seu. A oratória serviu de base para dizer que votou “pelo pai de família”, “pelo cidadão mais simples” que é quem ele se propõe a defender. Por fim disse que “não é representando o agronegócio que vou ir a lugar algum”, um discurso curioso para quem milita politicamente no Estado mais produtivo do país.

Visera seguiu o hábito de atacar o mensageiro e não a mensagem. Disse que a imprensa distorce as informações – mesmo se tratando de uma entrevista em que as posições são claramente o que Chitolina defende e não o site de notícias. Esse é um comportamento habitual de Visera. Sua assessoria já entrou em contato com o GC Notícias em momentos passados pedindo para trocar a foto de uma reportagem em que ele aparecia e o conteúdo, aparentemente, não lhe agradava. Ele também aproveitou para lançar dúvidas sobre o empreendimento da Inpasa, alegando que tem informações de que talvez a empresa não invista R$ 500 milhões no município. Quanto ao “calote”, Visera decidiu se excluir da municipalidade. Ele questionou outro vereador dizendo: “o senhor foi prometer algo para empresa? Eu não fui”. De fato, quem fez a intermediação junto a Inpasa foi a prefeita Rosana Martinelli. No entanto, na sessão passada o executivo municipal tentou mudar a lei de incentivos fiscais, afim de aprovar as isenções fiscais por decreto – sem passar pela Câmara. Visera foi contrário. Ele não quer a responsabilidade de votar algo que a prefeita prometeu mas não quer abrir mão de, como fez, ser contrário à palavra empenhada pela gestora.

Ícaro Severo, contumaz legalista, discursou que o projeto de lei em questão não tratava de incentivos e sim das condicionantes. “Votamos a favor do emprego. O benefício já tinha sido dado”. Meia verdade.

O incentivo de fato foi aprovado em um projeto de lei anterior e esse apenas revisava as condicionantes. Ícaro não mentiu nesse sentido. No entanto, com aquelas condicionantes, a Inpasa não aceitaria o incentivo. Simplesmente porque a unidade não terá 400 postos de trabalho. Incapaz de honrar as condições, a Inpasa preferiria não gozar dos incentivos para não ser punida pelas sanções. Então, sim, votar contra a revisão das condicionantes era votar contra o incentivo.

Observemos por um instante a justificativa dos vereadores. Eles afirmam que votaram a favor do emprego. 400 postos de trabalho ao invés de 150, dizem eles. A fala dá a entender que a Câmara, ao votar contra, tem o poder de obrigar a empresa a contratar 400 pessoas. Isso é um delírio político populista. A Inpasa irá contratar o número de funcionários que precisa para tocar a sua planta industrial. E serão poucos porque não há espaço para braçais na usina da Inpasa. Do momento em que o milho chega na unidade até o ponto em que o etanol sai para os postos, toda a operação será controlada de dentro de uma salinha. Não haverá um funcionário “andando” pela indústria. Tudo é automatizado.

Votar contra o incentivo e justificar o voto dizendo que foi a favor do emprego é mascarar sua posição política ou se enganar, achando que tem um poder que não existe. A Inpasa não vai empregar 400 pessoas, sobre qualquer hipótese. Não agora. Quem sabe no futuro. Votar contra foi forçar a empresa a abrir mão do incentivo que lhe foi prometido.

Se Sinop deveria ou não conceder incentivos para uma indústria desse tamanho, esse é um assunto legítimo para se discutir. Dizer que votou a favor do emprego é iludir e acreditar na própria ilusão.