Operações especiais
Negociadores do Bope unem preparo e técnica para enfrentar situações de crise
Polícia | 17 de Agosto de 2016 as 09h 58min
Fonte: Lidiana Cuiabano - Sesp-MT
Quinta-feira, 11 de agosto de 2016. Surpreendidos pela Polícia Militar durante tentativa de roubo a uma agência dos Correios no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá, assaltantes fazem reféns uma funcionária e o segurança da unidade.
A situação mobiliza as forças de Segurança Pública. Em especial, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), unidade que tem entre seus integrantes profissionais especializados em lidar com situações de crise como aquela.
À frente da negociação está o comandante do batalhão, o tenente-coronel PM, José Nildo Silva de Oliveira. Após aproximadamente uma hora e meia, a situação é encerrada da melhor forma possível: assaltantes presos e reféns libertados sem ferimentos.
O comandante atribui o desfecho à atuação conjunta das forças de segurança pública.
“A competência no apoio ao atendimento de ocorrência de crise, com ou sem refém, é do Bope. Entretanto, a participação das demais forças, como a Polícia Civil, Rotam, Ciopaer, os policiais do batalhão de área, cada um fazendo a sua parte, foi fundamental para o sucesso daquela ocorrência”, disse o comandante.
Considerada uma alternativa diplomática, a negociação é a primeira tática empregada numa situação de crise. O objetivo é buscar uma solução pacífica para o conflito.
Ouvir na Essência
Um dos policiais negociadores do Bope, o major PM Carlos Augusto Evane, explica que a função do negociador é ser um elo para toda a atuação policial. “É prestar suporte à negociação, e agir de forma técnica, para que os causadores do evento crítico desistam da ação”, disse.
Segundo ele, a missão do negociador é conquistar a confiança do causador da crise e convencê-lo a desistir do ato criminoso, libertar as vítimas, caso existam, e se render. Para ser capaz de alcançar este resultado, afirma ele, é preciso que o negociador desenvolva algumas habilidades essenciais.
“Uma delas é extremamente necessária: conseguir ouvir na essência. Para que a gente consiga realizar uma comunicação, é preciso ser capaz de ouvir e entender o que está por trás daquela situação, daquela ocorrência. Só assim vamos conseguir agir de forma técnica”, explicou Evane.
Para o Major, o negociador é apenas mais uma opção dentro de um contexto de crise. “Somos uma peça dentro do cenário. A nossa função é prestar suporte a todas as demais alternativas que ali se encontram”, disse.
A equipe de negociação é composta pelo negociador principal, o secundário, o comandante da equipe e o anotador. Para a utilização de técnicas e tecnologias não letais, compõem o grupo tático o atirador de precisão (sniper) e uma equipe de policiais que realiza o resgate de reféns e a varredura do ambiente.
São profissionais altamente treinados e qualificados, que passaram por um curso específico de negociação que os capacita a estudar e analisar cenários, e a aplicar as técnicas com precisão.
“Avaliamos o desfecho da ocorrência na unidade dos Correios como muito exitosa, uma vez que as duas pessoas que se encontravam em situação de refém e os dois causadores do evento crítico saíram ilesos”, afirmou Evane.
O negociador
Um policial tranquilo, observador, atento a quaisquer circunstâncias à sua volta. O negociador precisa saber ponderar as informações no local da ocorrência e adotar a estratégia de negociação mais adequada à situação, seja ela com refém ou uma tentativa de suicídio.
“A abordagem do negociador muda de acordo com cada cenário. É fundamental ter controle emocional, pois não é fácil o policial ficar exposto na situação, face a face com o causador do evento crítico”, disse o major Evane.
Além do controle emocional, Evane classifica um bom negociador aquele que também possui a capacidade de sintetizar informações e ter uma comunicação direta.
“Não basta falar. É preciso se expressar de uma forma que o outro entenda. E hoje a nossa regra número um é estabelecer essa relação e vencer a cada passo. A nossa função é contribuir para que a ocorrência transcorra da melhor maneira possível”, declarou.
A descrição e o perfil de competência profissional da função Negociador do Bope de Mato Grosso está instituída na portaria conjunta nº 02/2015/GAB-SESP/BOPE, de 19/01/2015.
Capacitação
Os negociadores do BOPE de Mato Grosso são capacitados dentro do próprio batalhão, no Curso de Negociador Policial, e também em unidades do BOPE de outros Estados.
No BOPE em Mato Grosso o treinamento é realizado todo ano e dura em média 30 dias. O currículo aborda, entre outros temas, técnicas de persuasão, negociação e gerenciamento de crises.
“Temos um histórico extremamente positivo no quesito negociação em Mato Grosso. O objetivo do curso é potencializar as características do negociador”, afirmou o major Evane.
Além da preparação específica, todos os policiais que compõem o efetivo do batalhão, necessariamente, têm que concluir os cursos de Ações Táticas Especiais (Cate) e de Operações Especiais (COEsp).
O Cate tem duração aproximada de dois meses. Já o COEsp se estende por quatro meses.
"Hoje, o BOPE de Mato Grosso é referência em cursos policiais, como o de Patrulhamento em Ambiente Rural (Cpar), pelo qual tem destaque em cenário nacional", declarou Evane.
As técnicas do curso são empregadas em intervenções e buscas de criminosos especializados em assaltos à banco na modalidade chamada de "Novo Cangaço".
Os cursos de Cinotecnia Policial (CCP), Táticas Policiais Avançadas (CTPA), Técnico Explosivista e Atirador Policial de Precisão (snipers) também são oferecidos aos profissionais do batalhão.
Sobre o Bope
O Batalhão de Operações Policiais Especiais conta com 103 policiais militares e atua em todo Estado de Mato Grosso em situações de alta complexidade, como ocorrências de crise, envolvendo reféns, ocorrências de tentativa de suicídio, roubo a banco e com uso de explosivos.
O batalhão também realiza operações conjuntas com os estados limites como Rondônia, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará.
“Fazemos também operações em conjunto, quando essas ocorrências de alta complexidade eclodem em localidades divisas com esses estados”, disse o comandante, tenente-coronel PM, José Nildo Silva de Oliveira.
Criado na década de 1980, o batalhão era formado por cinco companhias independentes: Operações Especiais (COE), Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam), Operações de Choque (CHQ), Operações com Cães (COC) e de Cavalaria (CAV).
Essas três últimas foram desativadas, sendo a Cavalaria retomada em forma de Regimento de Policiamento Montado, em razão dos jogos da Copa do Mundo de 2014, em Cuiabá.
Em 2009, a companhia da Rotam também foi desativada e posteriormente ativada como batalhão.
O Bope passou a ser constituído somente pelo efetivo remanescente da COE. Em abril de 2009, tornou-se efetivamente o Batalhão de Operações Policiais Especiais, composto por três companhias: a de Intervenção Tática (1ª Cia), de Gerenciamento de Crise e Contra-Terror (2ª Cia) e de Comando e Serviço (3ª Cia).
Dados
De janeiro a agosto deste ano, foram registradas cerca de 80 ocorrências envolvendo reféns, uso de explosivos e tentativas de suicídio em Mato Grosso.
Desse total, 30 foram atendidas com atuação direta do Batalhão de Operações Policiais Especiais.
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