Polícia abre inquérito e ouve filhos de homem levado vivo a necrotério de PS

A Polícia Civil instaurou nesta segunda-feira (21) um inquérito para investigar o caso do paciente de 58 anos do Pronto-Socorro de Cuiabá que, mesmo com sinais vitais, foi encaminhado ao necrotério da unidade na última sexta-feira (17).

A investigação será conduzida pela delegada Anaíde Barros, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), e deverá tentar esclarecer, entre outros, se houve negligência no tratamento ao paciente Vitalino Ventura da Silva, que morreu de fato nesta segunda-feira. O corpo dele foi velado nesta terça-feira pela família em Cuiabá.

Sofrendo paradas cardíacas na última sexta-feira, Vitalino chegou a ser reanimado, mas depois foi dado como morto e encaminhado ao necrotério do Pronto-Socorro (PS). Entretanto, uma pessoa que passou pelo setor notou que o lençol sobre o corpo do paciente supostamente sem vida se movia devido à respiração de Vitalino. A situação foi gravada em vídeo.

Percebido o erro, a equipe do PS encaminhou Vitalino de volta à Sala Vermelha do PS, onde ele permaneceu até a noite de domingo, quando foi enviado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que ele morreu de fato por volta das 12h desta segunda-feira.

O corpo foi enviado ainda na segunda-feira ao Instituto Médico Legal (IML), que deverá emitir um laudo sobre a causa da morte. O velório de Vitalino foi realizado na casa da família em Cuiabá nesta terça-feira, com previsão de sepultamento por volta das 16h [horário de Mato Grosso].

Inquérito policial

De acordo com a delegada Anaíde Barros, o objetivo da investigação é verificar se o encaminhamento equivocado de Vitalino ao necrotério ocorreu por uma negligência da equipe que o atendeu e se este procedimento de alguma forma acelerou a morte do paciente, que já era considerado terminal. Um dos primeiros procedimentos da investigação será feito nesta quarta-feira, às 11h, quando a delegada deverá colher os depoimentos de dois filhos de Vitalino.

Além da investigação da Polícia Civil, o caso já está sendo apurado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren). Já o Ministério Público deverá investigar se ocorreu no caso algum ato de improbidade administrativa de servidores do PS.

A unidade, por sua vez, também já tomou providências, afastando a médica que constatou equivocadamente a morte de Vitalino e abrindo sindicância para apurar a conduta dela e de outros dez funcionários do PS (outros dois médicos, seis técnicos de enfermagem e dois enfermeiros).

Todos eles poderão sofrer processos administrativos caso sejam constatadas irregularidades no exercício das funções.

A família de Vitalino deverá utilizar o laudo do IML para tomar as medidas judiciais cabíveis, caso seja apontada alguma negligência no atendimento a ele. A suspeita da filha Janaina Maria Ventura da Silva é de que não foi dada a assistência ideal ao pai. “Empacotaram meu pai vivo. Isso é um absurdo!”, revoltou-se.