Nos labirintos da Ararath
Eder mostrava planilhas de negócios a Silval e era "elo" com Mendonça
Política | 17 de Março de 2015 as 10h 55min
Fonte: RD News
O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) teria se valido do ex-secretário de Fazenda Eder Moraes como um elo com Júnior Mendonça, proprietário da Globo Fomento. Eder e o empresário são apontados como os pivôs de um esquema de lavagem de dinheiro e crimes financeiros em Mato Grosso, investigados pela Polícia Federal na Operação Ararath, que já culminou na deflagração de 6 ações. Os alvos são empresários, políticos e advogados. O rombo causado seria de pelo menos R$ 500 milhões.A partir de hoje o Rdnews publica uma série de reportagens acerca das investigações, que já culminaram na instauração de processos e, em outros casos, ainda está em fase de apuração.
Em depoimento concedido à Justiça Federal, em 7 de agosto do ano passado, em audiência com o juiz federal Jeferson Schneider, Eder afirma que, em alguns casos, não tinha conhecimento sobre o teor das transações financeiras do peemedebista. À época, Eder estava preso e conseguiu um HC no dia seguinte. Conforme o vídeo que o Rdnews teve acesso, o ex-secretário diz que recebia a planilha com as anotações de Mendonça e as apresentava para o então vice-governador Silval, que estava na iminência de assumir o Palácio Paiaguás e, por isso, é chamado de governador. “Sim, fazia esse elo. Levava ao governador (Silval) e ele dizia é isso mesmo ou não, já mandei pagar tanto. Não falava quem ele mandou pagar. Joaquim, Pedro, Manuel, não falava”, afirmou Eder, ao ser questionado pelo MPF acerca do item 40 que foi apreendido na residência de Mendonça.
Reprodução
Então vice-governador Silval Barbosa pediu para que Eder Moraes fosse elo com Júnior Mendonça
Trata-se de duas planilhas de anotação, que contêm um visto de Eder, em que são descritos valores relativos a supostas transações feitas com, por exemplo, Alencar (que seria o ex-conselheiro Alencar Soares), R$ 1,5 milhão; além da Açofer, Real Sports, Mixto Esporte Club, H.B. ( que seria Humberto Bosaipo), entre outros. O teor da planilha já foi divulgado pelo Ministério Público Federal. Na dénuncia, o órgão fiscalizador avalia que os documentos apreendidos demonstram a existência de um “acerto do sistema conta-corrente” entabulado pelo empresário e Eder, que representava os interesses do senador Blairo Maggi (PR) que comandou o Estado, e do sucessor dele no Palácio Paiaguás, Silval.
“Destacamos a oposição de assinatura do denunciado Eder Moraes no averso e verso do documento, ao lado da data 30/10, com a inscrição R$ 7 milhões, justamente para dar ciência e garantia do saldo devedor”, diz trecho da denúncia formulada pelo MPF.
Na coleta do depoimento de Eder, as procuradoras Denise Müller Slhessarenko e Vanessa Zago Ribeiro Scarmagnani questionam o motivo de Eder só reconhecer a sua assinatura no documento citado em relação à transações que somam R$ 62 mil, tendo em vista que aparecem detalhamentos de outras possíveis negociações. Reforçam que apenas a assinatura de Eder aparece, em duas oportunidades em 30/10 e 15/03 de 2010.
Chegam a perguntar se o ex-secretário tinha o hábito de assinar documentos em branco. “Então vice, o governador Silval Barbosa tinha um volume de operações com a Globo Fomento e pediu que eu as acompanhasse, então, eu não sei dizer para a senhora, fora as operações que eu fiz, Mixto, empresa Laura Tereza da Costa Dias M.E e Circuito Automóveis, essas eu reconheço. As que estão a mais aqui eu não sei explicar pra senhora do que se refere, a que se refere e a título do que foi. Só o governador e o Júnior”, afirmou Eder.
Nesta linha, Eder pondera que o restante dos nomes e valores na lista possivelmente foram preenchidos por Júnior Mendonça mas que, com certeza, “eu levei ao governador (Silval) essa planilha completa. Eu não levei só com o meu visto de R$ 62 mil. Quando ela chegou a ir até o governador, ela estava completa. Não me recordo data, mas ele olhou e disse ok. Eu disse, governador, Mixto, Laura e Circuito são operações minhas, deduz isso aqui, está correto? Está, é isso”, revela o ex-homem forte do Governo no depoimento.
Conforme o ex-secretário, o empresário Júnior Mendonça tinha em seu poder notas promissórias que globalizavam o valor que ele operava com o peemedebista e que, em algumas vezes, pediu para que o então secretário de Fazenda assinasse promissórias como uma garantia adicional. “Depois eu recolhi essas notas promissórias. Podia ter tocado fogo, podia ter escondido, mas não fiz, guardei na minha residência”.
Em relação ao pagamento de todos os valores, o ex-secretário ressalta que não sabe se foram efetuados, tendo em vista que deixou o posto de secretário de Fazenda no final de março de 2010. “Se o governador (Silval) pediu a mesma coisa ao Edmilson eu não sei. Eu sei que eu recolhi os documentos e Júnior declarou que eu não lhe devo nada”, reforça, numa referência às transações pessoais feitas por ele com o empresário.
Outro lado
Procurado pelo Rdnews, Eder Moraes garante que todas as operações que fez são privadas e que não há envolvimento de recursos públicos. Nesta linha, pondera que cabia a Globo Fomento contabilizar as transações e que, se não o fez, incorreu em crime unilateral.
O ex-secretário explica que cabia a Júnior Mendonça comunicar qualquer atipicidade e que, no seu caso, as negociações se referiam, por exemplo, a antecipações de receitas referentes a realização de eventos como feiras agropecuárias com a Banna Produções, sendo que tudo foi declarado à Receita Federal. Sobre o Mixto pondera que perícia técnica já teria apontado que os recursos foram para o clube e que não houve lavagem de dinheiro. “As outras (operações) quem fez é que tem que responder. Tá confuso, no Supremo há um sigilo envolvendo o caso”, pondera, reforçando que prefere não dar nomes.
O advogado de Silval, Ulisses Rabaneda, por sua vez, reforça o fato da investigação, referente ao peemedebista, estar correndo sob sigilo no STF. O caso está sob o ministro Dias Toffoli. Ele explica ainda que, apesar de Silval ter perdido o foro privilegiado, o caso não será remetido à Justiça Federal, tendo em vista que o Supremo negou o desmembramento do caso. De todo modo, Ulisses pontua que, no momento certo, todas as operações serão esclarecidas. Já o advogado de Júnior Mendonça, advogado Hendel Rolim, não foi localizado para comentar o assunto.
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