Operação Ararath
Imóveis em nome de laranjas lavaram dinheiro público para abastecer campanhas
Dinheiro desviado dos cofres públicos foi investido em imóveis que agora a PF tenta recuperar
Política | 03 de Junho de 2016 as 09h 53min
Fonte: Redação com Olhar Direto
A 11ª fase da Operação Ararath, da Polícia Federal, investiga compra e venda de imóveis suspeitas de terem sido usadas para acobertar milhões de reais ilícitos, com uso de laranjas. O dinheiro público desviado era usado para pagar empréstimos feitos em instituições financeiras clandestinas. A Polícia Federal apura também a suspeita que esses recursos tenham sido usados em campanhas eleitorais.
As informações foram dadas durante entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (2). O delegado Wilson Rodrigues de Souza Filho informou que essa fase foi deflagrada após rastreamento de dinheiro ilícito movimentado por investigados em outras fases da Ararath. Depoimentos também ajudaram na investigação. As movimentações que culminaram com compra e venda de imóveis foram alvo da fase 11. “O que temos é: investigados que enriqueceram de algum modo ilicitamente, mediante atos que podem ser enquadrados como de corrupção, e também envolvimento em crimes financeiros – que é intermediação de recursos de terceiros à margem da autorização do Banco Central – e aplicação desses recursos na aquisição de imóveis usando nomes de terceiros”, resumiu o delegado.
Ele lembrou que, desde a primeira fase, em 2013, a Ararath investiga um grande esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro. “Em suma, os fatos giram em torno de grandes operações de crédito, pagos com desvio de recursos públicos. Ao longo das investigações, alguns investigados aplicaram dinheiro de origem ilícita em operações imobiliárias e essa fase de hoje é para colher provas”, explicou.
Wilson Rodrigues confirmou que as cifras são milionárias, mas não quis mencionar o valor nem o número de imóveis, para não atrapalhar as investigações. Além disso, eles pretendem ampliar as investigações para mais comercializações de imóveis suspeitas.
Sem dar detalhes de datas ou nomes, em função do segredo de justiça sobre o processo, o delegado confirmou que a investigação aponta para uso desse dinheiro para abastecer campanhas eleitorais. “Existem indícios que houve financiamento de campanha com recursos ilícitos. Mas não é possível detalhar qual campanha, qual período. Seria a mesma coisa que dizer nomes de investigados”, declarou.
Construtoras
Os empresários levados para prestar depoimentos tiveram que esclarecer compras suspeitas de clientes, e podem responder por isso caso tenham se omitido de informar as autoridades competentes. Nos depoimentos, nenhum deles se recusou a prestar esclarecimentos, segundo o delegado. Prestaram informações à Polícia Federal o dono da Construtora São Benedito, Marcelo Maluf, e da Construtora GMS, Georges Malouf.
“O segmento de promoção, compra e venda de imóveis é muito importante na economia do país. E eles têm obrigação, por lei, de informar ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) toda operação suspeita que envolva compra e venda de imóveis. Vamos apurar responsabilidade daqueles que eventualmente tenham deixado de cumprir com esse dever legal, previsto na Lei 9.613, que trata do combate à lavagem de dinheiro. As informações iniciais são que não houve comunicação, mas temos que apurar. Estamos colhendo provas”, disse Wilson.
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