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Política

Mato Grosso terminou 2015 pior que começou, afirma jornalista

Política | 03 de Janeiro de 2016 as 12h 42min
Fonte: Mídia News

O futuro do Estado e do País, durante o ano de 2016, não deverá ter aspectos positivos, quando analisado sob o ponto de vista da economia, revelou o jornalista e colunista do Midianews, Onofre Ribeiro.

 

Ele acredita que a economia de Mato Grosso deverá sofrer um prejuízo bilionário, que dificultará os novos investimentos e contaminará outros setores, tal como o político. O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, conforme o jornalista, deverá sofrer impacto das dificuldades que serão encontradas pelo setor do agronegócio, o carro-chefe da economia da região.

 

Atento aos acontecimentos do Estado, Ribeiro acredita que o governador Pedro Taques (PSDB) teve um primeiro mandato positivo. Porém, ele espera que novas medidas sejam adotadas pelo governante durante os próximos anos.

 

“Em Mato Grosso, não há grande problemas na politica, pois o Pedro Taques tem o governo nas mãos e está conseguindo se relacionar bem com os outros Poderes”, disse.

 

Onofre Ribeiro foi secretário de Estado de Comunicação (Secom) durante o governo Silval Barbosa (PMDB), a quem faz duras críticas. Ele acredita que o ex-governador, que encontra-se preso, se não estivesse na cadeia, deveria estar no “ostracismo”.

 

Aos 71 anos, e como sempre muito ativo e entusiamado, Onofre também fala aqui a respeito dos rumos que o Brasil deve tomar. Defensor da privatização e do “antipetismo”, Ribeiro acredita que o País está passando por um caminho de transformações, que deverá trazer um saldo positivo.

 

Nesta entrevista, o analista também trata de questões como a sucessão na Prefeitura de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e as expectativas para o futuro de Mato Grosso e do Brasil.

 

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Do ponto de vista econômico, você acredita que Mato Grosso terminou o ano de 2015 melhor ou pior do que começou?

 

Onofre Ribeiro – Mato Grosso terminou o ano de 2015 em uma situação pior do que começou, analisando do ponto de vista da economia. Chegamos ao final do ano com o setor que é a base da economia do Estado, o agronegócio, muito pressionado pelo câmbio, pelos preços internacionais e por problemas climáticos, que vão diminuir em um milhão de tonelada a produção em 2016. Então, 2015 terminou pior do que começou.

 

A agricultura está com problemas de financiamento e vai se descapitalizar em 2016. Isso significa uma crise econômica no Estado, na agropecuária, no comércio, nos serviços e na indústria. Mato Grosso, que esperava um crescimento de 3% neste ano, não vai chegar a isso e irá ficar na faixa dos 2%

MidiaNews – Quais são as expectativas para a economia do Estado, durante o ano de 2016?

 

Onofre Ribeiro – A projeção é de que 2016 seja um ano difícil, porque teremos várias questões graves acontecendo. Estamos com problemas na economia, pois quem financia a produção agrícola do Estado, que é a maior do País, em primeiro lugar é o Banco do Brasil, em segundo o BNDES e em terceiro as trades internacionais, que estão pressionadas pelo preço baixo das commodities agrícolas.

 

A perda do grau de investimentos do Brasil colocou todas as trades com as luzes amarelas acesas, então elas estão reduzindo os financiamentos. O Banco do Brasil e o BNDES estão quebrados para financiar. Então, a agricultura, que já está com problemas de financiamento, vai se descapitalizar em 2016. Isso significa uma crise econômica no Estado, na agropecuária, no comércio, nos serviços e na indústria. Mato Grosso, que esperava um crescimento de 3% neste ano, não vai chegar a isso e irá ficar na faixa dos 2%. Isso é um prejuízo enorme, 1% do PIB é mais de R$ 1 bilhão.

 

MidiaNews – Os problemas climáticos são fatores relevantes para a produção agrícola do Estado. Como eles deverão influenciar o setor ao longo deste ano?

 

Onofre Ribeiro – O problema climático, por si só, deve colaborar para a crise. Em Lucas do Rio Verde, por exemplo, a expectativa é de que 30% da produção agrícola sejam perdidos. Irão plantar e não haverá chuva, fato que ocasionará a perda da semente, perda do óleo diesel das máquinas e perda de muito dinheiro. Então, vamos ter, em Mato Grosso, uma crise ligada à perda de investimento do País, escassez de recursos, as trades internacionais estarão pressionadas pelo preço baixo das commodities internacionais e desconfianças com o Brasil e, além de tudo isso, os problemas climáticos.

 

O câmbio também será uma questão difícil, pois o produtor comprará sementes, insumos e defensivos, no exterior, com o dólar a R$ 4. O produtor foi salvo em 2015 por causa do câmbio, pois ele comprou os itens de insumo em 2014, com dólar de pouco mais de R$ 2 e está vendendo a dólar de R$ 4, então ele está se mantendo. Mas agora, em 2016, o produtor vai comprar os insumos a dólar de R$ 4, não vai ter crédito e vai vender mais barato. Em última instância, isso vai acarretar queda na arrecadação do Estado.

 

MidiaNews – Quais as principais diferenças da economia do Estado em 2015 e a que se apresentará em 2016?

 

Onofre Ribeiro – O ano de 2015 foi legal, o Estado cresceu 3%, enquanto o País encolheu 3,9%. No ano passado, a economia estava otimista, como vinha desde 2006. Em 2005 teve uma última crise de câmbio, depois a economia disparou. Mesmo com a crise de 2008, nos Estados Unidos e na Europa, o País não havia sido afetado.

 

Este ano de 2016 não será um período legal, pois é uma época de ajustes financeiros. Haverá uma parada na economia, para ela engatar a marcha certa e recomeçar de uma maneira mais sustentável, financeiramente, pois estes últimos anos foram bons demais e a fase de vacas gordas acabou.

 

Pela primeira vez, nos últimos quinze anos, nós passamos a depender da economia internacional e do andamento institucional do País. Quanto pior o Brasil for ficando, pior fica a imagem no exterior e a nossa situação em relação ao mundo, pois somos exportadores e não temos capital para financiar o setor agrícola.

 

A produção agrícola do Estado custa cerca de R$ 50 bilhões, para plantar, colher e vender. Os produtores não têm esse capital, eles dependem de financiamento. Antes, dependiam 18% do Banco do Brasil, que está quebrado. O BNDES auxiliava no financiamento de máquinas, mas ele também está quebrado. As trades estão com medo do Brasil. Atualmente, estamos dependendo muito do que vem de fora.

 

MidiaNews – De que forma as dificuldades que devem ser encontradas pelo setor econômico do Estado irão afetar a política?

 

Onofre Ribeiro – A queda da arrecadação no setor agrícola acabará atingindo a política, pois os governos trabalham com um planejamento mínimo, por pior que ele seja.  No ano passado, o Pedro Taques (PSDB), ao assumir o Estado, organizou a casa ao modo dele, então reduziu custos, mudou secretarias e estruturas e também estabeleceu um relacionamento com a Assembleia e tribunais.

 

Ao mesmo tempo, ele fez algum planejamento para este ano de 2016, que implica em dinheiro. Porém, não vai ter esse dinheiro na proporção que ele precisa, então isso prejudicará o Governo do Estado. Em um ano político, governante nenhum quer ter seus planos de realização frustrados por falta de dinheiro, por falta de poder realizá-los. Há muitos anos, Mato Grosso não passa por falta de dinheiro no orçamento, como deve passar neste ano.

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Onofre Ribeiro

"O problema climático deve colaborar para a crise. Em Lucas do Rio Verde, a expectativa é de que 30% da produção sejam perdidos"

 

MidiaNews – Diante das dificuldades, quando deverá ser o período em que o Estado irá superar a crise econômica e voltar a ter resultados positivos?

 

Onofre Ribeiro – O Brasil está atolado, ele se atolou, um pouco por si e um pouco por questões da esquerda. É uma questão de tempo para o Brasil se reerguer. Esse período de recomeço vai além de 2017, até mesmo além da Dilma. Os economistas falam que teremos 17 trimestres para o País se reerguer, ou seja, em 2020 o Brasil começaria a entrar no eixo.

 

O que nos salva em Mato Grosso é que temos uma posição muito forte na produção de alimentos. Isso é muito sólido, pois é uma tecnologia consolidada e não faltará dinheiro de fora para financiar isso, mesmo que diminua um pouco. Não vamos esperar muito mais dos financiamentos do BNDES, do Banco do Brasil, nem da Caixa Econômica, pois houve um uso ideológico desses bancos, que foram desviados para financiar consumo.

 

MidiaNews – Qual seria o diferencial de Mato Grosso durante esse período em que o cenário econômico do País encontra-se tão complicado?

 

Onofre Ribeiro – A tendência do mundo, nos próximos anos, é cada vez mais a população migrar do campo para a cidade, onde a renda per capita é maior. A população mundial tende a ter um acréscimo, nos próximos dez anos, de 800 milhões de pessoas. Isso representa muitas bocas para comer. Esse pessoal vai ter que comprar comida em algum lugar e, acredito, vai ser por aqui, porque é um lugar onde tem clima propício e tecnologia consolidada.

 

O Estado, independentemente dessa crise financeira do País, caminhará um pouco separado, por causa do valor “comida”, que é estratégico em todo o mundo.

 

Este ano de 2016 não será um período legal, pois é uma época de ajustes financeiros. Haverá uma parada na economia, para ela engatar a marcha certa e recomeçar de uma maneira mais sustentável

MidiaNews – Em todo o País, quais medidas deverão ser adotadas durante esse período?

 

Onofre Ribeiro –Obrigatoriamente, para não morrer de inanição, o Governo Federal deverá dar segmento a Parcerias Público-Privada (PPP), pois a privatização se tornará um item obrigatório, queira ou não, com Dilma ou sem Dilma. A partir disso, virá capital de fora para ferrovia, hidrovia, aeroportos e universidades.

 

Tudo deverá ser privatizado, pois, no mundo todo, o Estado cada vez mais está entendendo o seu papel como fomentador, não como realizador. O Estado é muito regulado, tem muitas leis, é atrasado e não anda. Um exemplo é a rodovia que vai de Cuiabá para Sinop, que melhorou muito e acabaram os buracos, após ela ser concedida para a iniciativa privada. O lado mau é que a gente paga o mesmo imposto que pagava antes e ainda o pedágio. Mas se você estraga o amortecedor de um carro, o valor será muito superior ao que seria pago no pedágio.

 

A privatização deverá ocorrer em hidrovias, ferrovias, hospitais, presídios e em boa parte da educação. Houve uma degradação de todos esses setores ao longo dos anos. Isso vai salvar a gente, em Mato Grosso.

 

MidiaNews – O governador Pedro Taques tem a visão de que a privatização é uma boa alternativa para o Estado?

 

Onofre Ribeiro – Ele pertence ao PSDB e se filiou ao partido consciente de que a sigla tem essa leitura. Ele sabe que privatizar é inevitável e que a estrutura pública, da maneira com que está montada, é muito lenta e ineficiente. Governar é atender aos anseios da sociedade, que atualmente quer segurança, saúde, boa educação, trafegar em uma estrada boa, ter uma boa universidade e pagar um imposto justo.

 

MidiaNews – Como o senhor avalia o projeto do Veículo Leve Sobre Trilho (VLT), que deveria ser concluído para a Copa do Mundo de 2014 e foi alvo de supostos esquemas de desvios de verba?

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Onofre Ribeiro

"O VLT foi um dos últimos equívocos do Estado, que não dá conta de fazer uma obra"

Onofre Ribeiro – O VLT foi um dos últimos equívocos do Estado, que não dá conta de fazer uma obra. A estrutura de gestão administrativa de controle ficou tão rigorosa que não consegue realizar esse tipo de obra. Por outro lado, a estrutura política ficou muito cara, tem que financiar o mundo político com os dinheiros das obras, por isso 60% do valor delas é desviado para a corrupção. Às vezes vai muito mais do que isso, como foi o caso do VLT.

 

Então, o Estado não é mais realizador, ele é o controle de gestão das coisas públicas, que terão de ser privatizadas o máximo possível, como acontece em vários lugares no mundo. Não estamos inventando a roda, estamos mudando um sistema político velho, arcaico, corrompido e ultrapassado.

 

MidiaNews – Que balanço o senhor faz do primeiro ano do governo Pedro Taques?

 

Onofre Ribeiro – O Taques encontrou o Estado pagando o preço muito alto por um sistema político velho, caro, equivocado e ineficaz. Ele encontrou a educação, a saúde, a segurança e as estradas em situação muit ruim. As instituições públicas não estavam funcionando, não era possível tirar documentos, nem emplacar carros. Agora, ele está fazendo uma gestão moderna.

 

Ele economizou R$ 300 milhões no custeio do Estado. Quando o Governo, que é um gastador emérito, consegue economizar, ele está no caminho, está fazendo fluxo de caixa. Mas se ele não melhorar a situação da corrupção, não planejar a saúde e a educação, aí não adianta economizar. O papel do Taques não é o de realizar as obras, mas, sim, cuidar do fluxo do caixa e aplicar verba onde precisa. A função dele é gerir recursos para os interesses da sociedade.

 

O Taques encontrou o Estado pagando o preço muito alto por um sistema político velho, caro, equivocado e ineficaz

Ele está em um bom caminho, espero que se mantenha desse jeito.

 

MidiaNews – E no setor de combate à corrupção, como avalia o desempenho do governo Taques?

 

Onofre Ribeiro – Acho que ele está fazendo um papel interessante no combate à corrupção, porque estávamos considerando, em Mato Grosso, que a corrupção era natural e fazia parte da política. Não, não é natural. Essa ideia de não roubar, talvez seja a mercadoria mais valiosa do Brasil. Ele pegou o Estado muito ruim, em razão das obras da Copa do Mundo, que foram totalmente desorganizadas. Acredito que o combate à corrupção é a mercadoria mais valiosa, no País, neste momento. A mídia nos mostra, constantemente, situações de corrupção em todo o País, como a Operação Lava Jato, Eduardo Cunha e Michel Temer. Está tudo de cabeça para baixo.

 

Acredito que a ética seja a grande mercadoria do País. Se o Taques continuar mantendo esta conduta, Mato Grosso, além dos alimentos, criará um produto que o mundo todo quer consumir, que é a ética.

 

MidiaNews – O senhor acredita que houve avanços, nos aspectos políticos e sociais, ao longo de 2015?

 

Onofre Ribeiro – Acho que começou um processo de mudanças no Estado, que vai resultar em um avanço, que ainda não aconteceu. Isso ocorrerá, de fato, se a sociedade parar de aplaudir ou jogar pedras e começar a cumprir o seu papel, que é o de fiscalizar. As pessoas, no Brasil, estão imbuídas de três coisas que me incomodam profundamente: o futebol, a bebida e as telenovelas. Todos esses três itens funcionam como paranoia social, como fuga da realidade. Somos um povo que foge da realidade. Um país em que a população foge da compreensão de seu momento histórico, somente uma guerra pode trazer o povo para a realidade. Como no Nacional Socialismo da Alemanha, de 1929 em diante: foi necessário acontecer uma guerra para que a população se conscientizasse de que não era por ali.

 

No Brasil, houve um momento, no fim regime militar, em que a sociedade acordou e foi para as ruas. O povo tem que ser crítico, não aceitar tudo. Somos um povo que foge da nossa responsabilidade crítica e histórica. O brasileiro não se assume e acaba terceirizando a culpa. “Ah, é do governo, é do Silval, é da política, é da universidade”, mas ele nunca se posiciona.

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Onofre Ribeiro

"O povo tem que ser crítico, não aceitar tudo. Somos um povo que foge da nossa responsabilidade crítica e histórica"

MidiaNews – Quais as expectativas para Mato Grosso em relação a desempregos, retração econômica e problemas sociais, durante este ano que se iniciou?

 

Onofre Ribeiro – Haverá muito mais desemprego neste ano e também acontecerá uma retração econômica muito forte. Estamos falando de uma retração no PIB, em 2016, em algo próximo a 6%. O Governo Federal começou falando, no ano passado, que a queda seria de 0,9%, depois terminou anunciando 3,9% e, por fim, o ano fechou com queda de 4%. Então, se considerar que a economia está caindo, vamos chegar à retração de 6% ou 7% em 2016. Isso representa um caos, pois o País vinha estável, até alguns anos atrás. Agora as pessoas vão parar de comprar carro e encontrarão dificuldades para comprar comida. A partir disso, vai haver conflitos sociais em função do desemprego e da retração da economia.

 

Os governos não saberão dar respostas à sociedade, pois possuem estruturas muito caras e pesadas e, reduzindo a arrecadação de impostos, eles terão cada vez mais dificuldades. Terão que reaprender, a partir deste ano, a representar a sociedade e a dar respostas. Acabou o dinheiro do pacto e também não adiantará aumentar o imposto, pois a economia estará exaurida.

 

Neste ano, vamos ter um recrudescimento ideológico do PT no governo, que deverá jogar o rico contra o pobre, para justificar a situação. A economia quebrou para todos. Quem tem dinheiro, guarda, não aplica, por causa da insegurança do momento. Em razão desse cenário, já está feito um conflito social muito grande.

 

MidiaNews – Tendo como base o primeiro ano do mandato do Taques, quais suas expectativas para os próximos três anos, em Mato Grosso?

 

Onofre Ribeiro – Se ele continuar mantendo a ideia de gestão para resultados sociais, de transformação, vejo um futuro fantástico. O Estado precisa disso, a percepção de futuro para o Estado é extremamente grande, do ponto de vista econômico. O Imea soltou, na semana retrasada, uma percepção de safra para 2025. A produção de grãos, nesses próximos dez anos, deve subir 88%. A produção bovina e suína, de carne, deve aumentar 88% também.

 

Então, se hoje há um giro econômico de mais de R$ 50 bilhões anuais na economia, daqui 10 anos estaremos com um giro de R$ 100 bilhões por ano somente com a produção. Isso reflete na renda per capita, na arrecadação de impostos, na chegada de tecnologias ao estado e na necessidade de grandes investimentos. O Estado é promissor e terá uma economia vibrante. Porém, nada disso terá resultado se não tiver uma gestão que saiba planejar, gastar e administrar isso, senão você mata o futuro.

 

A saúde e a educação implicam em um planejamento que não havia, por isso faltava e ainda falta uma gestão

Eu vejo que a responsabilidade da gestão Pedro Taques é muito além do que talvez ele imagine. É cuidar de um futuro imenso, em que o mundo vai comprar comida daqui, cada vez mais. Nossas ferrovias serão privatizadas, as rodovias também. Então, é importante haver um governo arejado, que seja capaz de entender isso. Em vez de criar uma ponte, colocar uma placa e fazer discurso, ele tem que ser arejado. É importante que ele não seja um governador de discurso nem de placas, mas de planejamento e de futuro.

 

MidiaNews – Especificamente nos setores da saúde e da educação, o senhor viu algum tipo de avanço em Mato Grosso ao longo do último ano?

 

Onofre Ribeiro – A segurança avançou bastante, porque ela estava desestruturada em sua função básica, as policias estavam andando pra lá e pra cá, feito “barata tonta”. Faltava gestão. A saúde e a educação implicam em um planejamento que não havia, por isso faltava e ainda falta uma gestão. Essas pastas pedem um grande planejamento. O avanço nessas áreas virá somente se houver um projeto para o futuro.

 

É preciso planejamento forte para a saúde, educação, segurança e estradas. Acho que essa é a grande missão do governo, neste ano. Ele precisa nos dizer o que planejou, pois ainda não disse. O secretário de Planejamento me disse, outro dia, que está transformando a “filosofia do planejamento”, ou seja, não faremos mais assim, faremos “assado”. Eu quero acreditar que eles estavam planejando, para começar a executar a partir deste ano. Esta sobra de caixa já é gestão, um indício de que há um projeto. No geral, não sei o que o governo está planejando.

 

MidiaNews – O governador Pedro Taques ganhou notoriedade nacional ao longo de 2015,  sendo inclusive entrevistado nas "páginas amarelas" da revista Veja e no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. O senhor acredita que ele tem cacife para alçar voos mais altos?

 

Onofre Ribeiro – A política nacional está se desmontando, a partir da Operação Lava Jato. Ela foi construída em cima de uma base falsa, que é a do dinheiro público, do “toma lá, dá cá” e da corrupção. Isso vai se desmontar, gradualmente, a partir de agora. Então, quem for fornecedor de uma obra-prima chamada ética e souber negociar isso com a política lá fora, terá um espaço muito grande. No ano que vem temos as eleições municipais no País inteiro, a eleição de governador é só daqui a três anos. Se ele conseguir que a eleição deste ano se realize sem “toma lá, dá cá” entre prefeitos e vereadores, então ele fará uma modernização muito grande na política do Estado. Isso permitirá que ele governe mais tranquilamente, sem tanta pressão do interior, porque a gestão municipal é péssima, de um modo geral.

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Onofre Ribeiro

"A política nacional está se desmontando, a partir da Operação Lava Jato"

Penso que pode ser um momento de grande transformação do Estado e essa mercadoria, bem vendida nacionalmente, terá valor, se não como uma carreira dele, como um exemplo de que é possível, em um Estado periférico.

 

Eu vejo um bom momento para o governador iniciar uma carreira nacional, mas ele tem que cuidar da gestão aqui, em Mato Grosso, para que ela seja o passaporte dele.

 

MidiaNews – No ano de 2015, houve diversos imbróglios entre a Assembleia Legislativa de Mato Grosso e o Estado. Você acredita que, atualmente, a relação entre os dois Poderes é boa?

 

Onofre Ribeiro – Sinceramente, a Assembleia não está à altura do momento, porque os membros foram eleitos pelo sistema antigo, através de compra de votos e esperando viver à sombra do governo. Nos últimos anos, a entidade viveu às custas do Estado, vendendo e negociando seu apoio e suas ações. Agora o governador tem a conduta de não negociar no “toma lá, dá cá”. Por isso, os membros da Assembleia terão que aprender a jogar institucionalmente, pois a sociedade está de olho nela. O momento pede ética. O Executivo, o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público e o Tribunal de Contas jogavam entre compadres, mas agora a sociedade quer entrar no jogo também. O povo está descobrindo que esses Poderes não existem para si, mas para a sociedade. Não é tempo mais de corporativismo, vão ter que mudar isso.

 

Com essa nova configuração, haverá choque entre os Poderes. Se o governador mantiver essa linha de não negociar no “toma lá, dá cá”, ele estará fazendo um grande bem para a sociedade do Estado.

 

MidiaNews – Como o senhor analisa a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Mato Grosso que irá investigar a emissão e pagamento de cartas de créditos a membros do Ministério Público Estadual (MPE)?

 

Onofre Ribeiro – O Ministério Público era intocável, por isso começou a acreditar que era Deus. Mas um dia ele descobriu que não era inatingível, porque de tanto acreditar nisso, muitos de seus membros esqueceram que eram iguais a todo mundo e começaram a pecar pesado.

 

Estamos falando de uma transformação, que está começando a nascer. Em Mato Grosso, essa alteração veio, também, do Poder Executivo. Essa é a nova visão, de respeitar o público e a sociedade, que é para quem o Estado vive, e não para as instituições corporativas.

 

MidiaNews – Como o senhor analisa as prisões de políticos poderosos no Estado, incluindo um ex-governador e um ex-presidente da Assembleia Legislativa, ao longo de 2015?

 

O Ministério Público era intocável, por isso começou a acreditar que era Deus. Mas um dia ele descobriu que não era inatingível

Onofre Ribeiro – Eu vejo essas prisões que aconteceram no Estado como algo didático. O estilo de governar, no Brasil, foi deteriorando ao longo dos anos. O Silval Barbosa tinha um despreparo político, pessoal, de equipe, de planejamento e de capacidade de gestão, por isso teve um governo tão desastroso. Agora, quem assumiu o Estado tem que analisar essas questões e consertar, por isso acontecem as prisões e tentativas de corrigir o que está errado. A sociedade não quer obras físicas, ela quer obras de gestão.

 

MidiaNews – O lugar desses políticos que foram presos nos últimos meses, em Mato Grosso, é realmente na cadeia?

 

Onofre Ribeiro – A maioria, se não fosse para a cadeia, fatalmente iria para o ostracismo. A Operação Lava Jato criou uma consciência nacional de que alguma coisa estava muito mal. Ao ver essa operação, você começa a comparar com Mato Grosso. Eu tenho a impressão de que, se o Silval, o Riva, o Pedro Nadaf, o Éder e o Marcel de Cursi não estivessem presos, eles estariam sob o julgamento da sociedade, que estaria pensando “esses caras não servem”. Então, se eles não estivessem na cadeia, estariam no ostracismo.  

 

MidiaNews – Em relação à prefeitura de Cuiabá, de que modo o senhor avalia a gestão do Mauro Mendes (PSB)?

 

Onofre Ribeiro – O Mauro Mendes entendeu que tem que enxugar os custos. Mas como um prefeito consegue reduzir custos, se tudo passa pelo Legislativo, que é gastador, irresponsável, não estuda e não faz o dever de casa? Então, fica tudo amarrado. O Mauro vai ter muito problema com a Câmara, para poder mexer na gestão, eficientemente. Mas ele tem consciência plena de que tem que mexer na máquina, reduzir e torná-la eficiente. Mas é difícil manter uma situação eficiente carregada com funcionários públicos com estabilidade, que não têm comprometimento com o trabalho, e os vereadores que empregam funcionários e que estão focados em seus interesses pessoais, sempre preocupados com a próxima eleição.

 

O Mauro Mendes tem dificuldade em dizer para a sociedade que está interessado em governar, mas tem problemas com a Câmara de Cuiabá, que é muito ruim. Não sei se ele terá coragem de dizer para os cuiabanos que possui dificuldades porque a Câmara não o deixa governar.

 

MidiaNews – O Mendes, caso seja candidato à reeleição neste ano, tem chances de permanecer na prefeitura da Capital?

 

Marcus Mesquita/MidiaNews

Onofre Ribeiro

"O Mauro vai ter muito problema com a Câmara, para poder mexer na gestão, eficientemente"

Onofre Ribeiro – Se ele se lançar a candidato, não terá oposição consistente. O Blairo Maggi pretende ir para o PMDB, com a janela que vai começar agora, e quer apoiar um candidato. Nesse caso, cria um conflito com o Pedro Taques, porque o governador não vai para o palanque do Mauro com o PMDB junto. Nesse caso, acredito que o prefeito deve permanecer com o Taques, porque é o Governo do Estado. Se n&atild