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Avaliar pesquisas

‘‘Para o candidato, a pesquisa funciona como porta-voz do eleitor’’

Diretores do Instituto de Pesquisa Avaliar explicam as vantagens da pesquisa eleitoral para os candidatos no processo rumo à vitória nas urnas.

Política | 13 de Julho de 2020 as 08h 50min
Fonte: Pedro Pinto de Oliveira

Gonçalo e Amauri, do Avaliar, explicam como são feitas as pesquisas e a importância delas não ap PNB Online

Mato Grosso se aproxima de mais uma eleição municipal, quando os eleitores de todo o Estado vão às urnas para escolher seus representantes para as Prefeituras e Câmaras Municipais dos 141 municípios. Mas em tempo de pandemia, a estratégia de comunicação para que os candidatos façam chegar aos eleitores as suas propostas deve sofrer mudanças. E uma ferramenta útil neste processo promete ser muito mais valiosa para apontar os rumos das candidaturas: a pesquisa eleitoral.

O PNB ONLINE ouviu os diretores do Instituto de Pesquisa Avaliar, Amauri Teixeira e Gonçalo Barros, para entender como a pesquisa eleitoral pode auxiliar os candidatos na tomada de decisões e trilhar um caminho de vitória nas urnas.

 

Confira abaixo os principais trechos das entrevistas com Amauri Teixeira e, em seguida, com Gonçalo Barros:

PNB ONLINE – As pesquisas eleitorais são confiáveis? Pesquisas podem ser manipuladas para enganar o eleitor?

Amauri Teixeira - Pesquisas de opinião pública são estudos científicos. Existe uma metodologia para a realização e as pesquisas adotam determinados parâmetros que permitem que a opinião de um grupo relativamente pequeno de pessoas represente a média das opiniões de uma população. Objetivamente, a pesquisa é confiável quando é feita de forma correta, de acordo com base científica e critérios éticos.

No entanto, da mesma forma que existem fake news, estelionatários e curandeiros, existem pessoas que manipulam os resultados de pesquisa, na tentativa de enganar o eleitor. O mesmo cuidado que se deve ter ao ler uma notícia ou uma informação compartilhada nas redes sociais, se deve ter ao ler uma pesquisa eleitoral.

 

PNB ONLINE – Sob a alegação de que não querem perder o voto, algumas pessoas escolhem o candidato que está liderando as pesquisas. Então, se a pesquisa é manipulada, o resultado da eleição pode ser influenciado por ela?

Amauri - Para escolher um candidato, o eleitor leva vários fatores em conta. Entre os eleitores indecisos e, especialmente, entre aqueles eleitores que votam apenas para cumprir uma obrigação legal, pode haver alguma influência da pesquisa, assim como podem ter influência a cor da marca do candidato, sua aparência física ou qualquer outro aspecto que pareça menos importante. Não me parece que as pesquisas sejam um fator determinante de vitória ou derrota de um candidato. Na eleição americana, em 2016, a quase totalidade dos institutos indicava a vitória de Hillary Clinton, mas Donald Trump venceu e foi eleito presidente.

 

PNB ONLINE – Por que as pesquisas erraram nos Estados Unidos? Pesquisas realizadas no mesmo período e na mesma localidade trazem, algumas vezes, resultados diferentes. Como explicar essa situação?

Amauri - As pesquisa têm uma margem de erro. Em eleições muito disputadas, quando os candidatos dividem a preferência dos eleitores, dentro dessa margem de erro, podem ocorrer variações nos resultados, já que se trabalha com amostragens. O que um leigo considera erro, pode ser uma variação prevista pela metodologia da pesquisa. O voto nos Estados Unidos não é obrigatório, o que cria um complicador adicional para os institutos. No caso da disputa entre Hillary e Trump houve uma conjunção de fatores, uma eleição apertada, e uma volatilidade nas opiniões, com a definição do voto ocorrendo bem perto da votação.

 

PNB ONLINE – E como explicar resultados diferentes em pesquisas feitas no mesmo período, na mesma eleição?

Amauri - As respostas anteriores ajudam a responder a sua pergunta. Existem pessoas mal intencionadas, que usam as pesquisas para tentar manipular o eleitor. E existem situações que as diferenças ocorrem por uma questão metodológica ou pela circunstância da eleição, com resultados diferentes, mas dentro da margem de erro.

 

PNB ONLINE – Uma pessoa comum tem como identificar se uma pesquisa foi manipulada?

Amauri - Muitas vezes, a manipulação é imperceptível mesmo para um especialista. Vou dar um exemplo. Quando pergunta em quem o eleitor vai votar, o entrevistador mostra um cartão em formato de círculo com o nome dos candidatos. O objetivo desse cartão é evitar que a simples leitura dos nomes possa influenciar a opinião do entrevistado. Pois bem, um instituto de Mato Grosso imprime esse cartão atribuindo uma cor para cada candidato. Estudos consagrados em todo o mundo mostram que a maioria das pessoas gosta mais de azul. Esse instituto sempre atribui a cor azul para o candidato de sua preferência. Na eleição para governador, em 2018, uma coligação questionou na Justiça Eleitoral uma pesquisa desse instituto, alegando justamente esse problema. O recurso foi negado, o que mostra a dificuldade de se exigir um padrão de conduta. A título de informação, o candidato que teve o nome escrito em azul no cartão não foi eleito.

Portanto, é muito difícil para o eleitor identificar certos truques de gente mal intencionada. A própria estrutura de um questionário de pesquisa, a ordem em que as perguntas são feitas, pode direcionar uma opinião.

 

PNB ONLINE – Então, o eleitor não tem como diferenciar entre uma pesquisa séria de uma pesquisa manipulada?

Amauri - Existem alguns cuidados básicos. Conferir se a pesquisa está registrada no TRE é um deles. Não garante a lisura do resultado, mas já exige algum comprometimento do instituto. E, embora em ano eleitoral seja proibida a divulgação de levantamentos sem registro no TRE, surgem as chamadas enquetes feitas pela internet e redes sociais. Esse tipo de levantamento não tem qualquer valor estatístico e o eleitor não deve confiar neles. Resultados forjados são um prato cheio para alimentar fake news. Outro aspecto que pode ser observado é o histórico de acertos do instituto e a regularidade de sua atividade. Deve-se olhar com reserva para institutos que só aparecem em ano eleitoral.

 

PNB ONLINE – As pesquisas publicadas pelos jornais e portais de notícias e as pesquisas feitas para uma determinada campanha, para um determinado candidato, são diferentes?

Amauri - Tanto as pesquisas para divulgação quanto as pesquisas para uma campanha seguem exatamente a mesma metodologia e devem ser feitas com o mesmo profissionalismo e rigor ético. O que difere são os objetivos. A pesquisa de intenção de votos, a que é mais frequentemente divulgada, informa ao eleitor a posição de cada candidato na corrida eleitoral, naquele momento. Mas a pesquisa é um instrumento muito mais amplo, que pode testar as reações do eleitor diante de certas situações, de certas mensagens. Numa campanha, a pesquisa tem um duplo papel. Ela permite que se avalie a aceitação das mensagens da campanha e fornece informações essenciais para o desenvolvimento da estratégia e da comunicação do candidato. Um candidato pode começar a campanha com uma intenção de votos pequena, mas com grande potencial de crescimento e chance real de vitória. As boas pesquisas são capazes de identificar esses cenários.

O segundo papel muitas vezes é ignorado. Para o candidato, a pesquisa funciona como porta-voz do eleitor. A pesquisa traduz o sentimento e a opinião dos cidadãos, é um link permanente entre a vida real e a campanha. Um candidato sem pesquisa não tem como compreender em profundidade as necessidades da população.

 

Acompanhe abaixo a entrevista com Gonçalo Barros:

PNB ONLINE – Com o recadastramento da Justiça Eleitoral para a implantação da votação por biometria, houve uma redução do número de eleitores em Cuiabá e em Várzea Grande. Qual a explicação para que o eleitorado desses municípios tenha diminuído se a população cresceu?

Gonçalo Barros - A explicação mais razoável é o desinteresse e o desalento com a política. Uma parcela expressiva do eleitorado está desestimulada e frustrada com a política e, simplesmente, deixou de se recadastrar. Impressiona o enorme contingente de eleitores que desapareceu – são 63 mil a menos em Cuiabá e 29 mil a menos em Várzea Grande. Isso significa 17% do eleitorado na capital e 18% do eleitorado atual de Várzea Grande. Como o voto é obrigatório, chama a atenção que um contingente tão expressivo abra mão de alguns benefícios que exigem comprovação de regularidade eleitoral. O mistério que talvez a Justiça Eleitoral tenha que analisar é por que esse fenômeno se restringiu a essas duas cidades.

 

PNB ONLINE – A constatação de que o número de eleitores diminuiu pode indicar a ocorrência de fraude nas eleições realizadas nesses municípios em anos anteriores? Existia um eleitor fake?

Gonçalo Barros - A Justiça Eleitoral é bastante criteriosa nos recadastramentos e o sistema de votação é bastante seguro. Parece difícil imaginar uma fraude desse porte. Pela média dos municípios brasileiros, o eleitorado representa em torno de 70% da população. Até antes do recadastramento para a biometria, Cuiabá e Várzea Grande estavam dentro dessa média. Considerando as estimativas populacionais do IBGE, o eleitorado de Cuiabá representa hoje apenas 61% da população, eram 72% antes do recadastramento, e o de Várzea Grande representa agora 56% da população. Antes do recadastramento, esse percentual era de 67%. Em outras grandes cidades do estado, como Rondonópolis, Sinop, Cáceres e Barra do Garças, o eleitorado cresceu e se mantém dentro da média nacional.

 

PNB ONLINE – É possível saber quem é esse eleitor que teria deixado de se recadastrar?

Gonçalo Barros - Tenho estudado muito essa questão, pois ela é fundamental para a elaboração dos planos amostrais e a precisão dos resultados das nossas pesquisas. Os dados do TSE dão algumas pistas sobre esse eleitor desaparecido. Sabemos que ele está concentrado na faixa entre 25 e 49 anos e que é majoritariamente do sexo masculino. São eleitores em faixas de escolaridade mais baixa. Também existe uma evasão nos eleitores com mais de 70 anos, mas estes estão desobrigados de votar.

 

PNB ONLINE – Essa evasão de eleitores tem peso na representação política? Pode favorecer algum campo ideológico ou socioeconômico?

Gonçalo Barros - É razoável supor que o eleitor que deixou de se recadastrar faça parte do grupo que, usualmente, não comparece às votações. Portanto, não produzirá efeito na representação política. Mas há uma questão bastante curiosa no caso de Várzea Grande. A Lei prevê que os municípios com 200 mil eleitores ou mais tenham segundo turno. Antes do recadastramento, Várzea Grande estava a apenas 10 mil eleitores de ter segundo turno. Com o recadastramento, essa distância passou para 40 mil. A evolução do eleitorado de Várzea Grande mostra que o município tem menos eleitores hoje do que tinha há 10 anos. Eram 168 mil, em 2010; 189 mil, em 2018, e agora são 160 mil. Para efeito de comparação, a população de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é de 280 mil pessoas e lá tem segundo turno; a população de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, é de 273 mil pessoas e o município também tem segundo turno. Com uma população estimada pelo IBGE em 285 mil pessoas, Várzea Grande não tem segundo turno. Portanto, se estivesse dentro da média nacional entre eleitorado e população, este ano ou, no máximo, em 2024, haveria segundo turno em Várzea Grande.

 

PNB ONLINE – O senhor está dizendo que existiu alguma ação para evitar que a eleição em Várzea Grande ocorresse em dois turnos?

Gonçalo Barros - Seria leviano da minha parte afirmar algo nesse sentido. O que é curioso é o fato de o eleitorado ter retrocedido ao patamar de 10 anos atrás. Aliás, o mesmo fenômeno pode ser observado em Cuiabá. Em 2010, Cuiabá tinha 386 mil eleitores, 13 mil a mais do que os registrados hoje.

 

PNB ONLINE – Fala-se muito em pesquisas de opinião no período eleitoral. Governos e prefeituras investem em pesquisa para avaliar seus serviços e ações?

Gonçalo Barros - Não investem nem perto do que seria necessário. Os políticos se preocupam muito com pesquisa no período eleitoral, mas depois de eleitos se esquecem da importância desse instrumento. As pesquisas são fundamentais para o monitoramento das ações administrativas. É uma ferramenta auxiliar para uma boa gestão. São poucos os gestores no Brasil que recorrem a pesquisas como bússola para suas ações. Existem experiências muito ricas nesse sentido, até mesmo com a simulação de discussões de projetos de Lei, oferecendo subsídios para governos e legislativos no refinamento de propostas. Infelizmente, isso é ignorado aqui em Mato Grosso e no país em geral.

 

PNB ONLINE – Como as pesquisas de opinião podem contribuir para melhorar o trabalho das administrações públicas?

Gonçalo Barros - Uma iniciativa importante é a aferição de satisfação dos usuários desses serviços. Lembro que Gilberto Kassab, quando foi prefeito de São Paulo, contratou um instituto para aferir a satisfação dos usuários com os serviços de saúde. Mais de 90% dos entrevistados avaliavam os serviços positivamente, enquanto o conjunto da população criticava a saúde. Para um gestor, a pesquisa é uma ferramenta essencial para compreender o cidadão e, assim, poder dar prioridade a ações e ao uso dos recursos públicos. O caso da saúde é sempre emblemático. Na maioria dos municípios, a saúde é o principal motivo de queixa. E a pesquisa permite ir além dessa constatação. Muitos gestores investem na construção de hospitais e na compra de equipamentos. São ações importantes, mas o maior problema na saúde é o atendimento. O cidadão quer ser bem atendido, bem tratado. A pesquisa permite também esse refinamento nas ações administrativas.

 

PNB ONLINE – Se é um instrumento tão importante, por que os governos não realizam pesquisas com frequência?

Gonçalo Barros - O primeiro problema é que o gestor usa a pesquisa para saber se sua gestão está bem avaliada ou não. Faz um uso limitado das possibilidades dessa ferramenta. Falta uma cultura para adoção de pesquisas na tomada de decisões. Como ignora as possibilidades, o gestor considera um gasto desnecessário. Tenho certeza que muitos serviços públicos poderiam ser melhorados se os prefeitos reservassem algum recurso para entender melhor a expectativa e a opinião do cidadão. Algumas cidades criaram ouvidorias para se aproximar da população. É uma boa iniciativa, sem dúvida. A diferença é que a pesquisa permite que o gestor se antecipe e resolva problemas antes que o cidadão reclame.