R$ 3,50 o quilo
Associações lutam para manter preço da castanha após supersafra
Falta de fábricas de beneficiamento na região pode prejudicar coletores
Rural | 06 de Março de 2015 as 10h 22min
Fonte: Redação
A castanha do Brasil é um produto nobre, bastante comercializado nos grandes centros e que tem contribuído para a conservação da floresta Amazônica. Há alguns anos associações e cooperativas da região descobriram na extração desse produto uma forma de gerar renda e manter a floresta em pé. No Noroeste de Mato Grosso a atuação de projetos socioambientais e a regularização jurídica de grupos de associações de coletores de castanha do Brasil contribuíram bastante para a elevação do preço do produto no mercado, que hoje chega a valer R$3,50 o quilo; para se ter uma ideia, há menos de cinco anos o quilo era vendido por R$ 1,00.
Mas a combinação de demanda com bom preço produziu esse ano uma supersafra de castanha. “Este ano na região do Noroeste, nas florestas onde atuamos, a coleta já está próxima da metade, com cerca de 15 mil quilos já recolhidos. A expectativa é que o número ultrapasse os 30 mil quilos”, diz Veridiana Vieira, secretaria geral da associação PA Juruena, que conta com 38 famílias que juntas trabalham na coleta de castanha do Brasil. “O problema é que devido a falta de pontos de beneficiamento, todo esse excedente corre o risco de cair na mão de atravessadores. Não estamos encontrando compradores para o produto”, diz Vieira.
O bom preço causou um aumento no interesse dos coletores em toda a região, que passaram a intensificar a coleta nas florestas. A super-oferta do produto, porém, tem causado dificuldades na comercialização, pois a única cooperativa local com capacidade de processar o produto e exportá-lo não dá conta de receber o volume de produção. “Temos capacidade para processar 300 toneladas por ano, mas estamos investindo e nossa projeção é de 500 toneladas para 2017”, diz Paulo Nunes, coordenador do Programa Sentinelas da Floresta, uma parceria da Cooperativa Vale do Amanhecer (COOPAVAM) com o Fundo Amazônia. “Nosso objetivo é ampliar a escala de produção, valorizar ainda mais a amêndoa e o trabalho desta rede de organizações, garantindo a gestão destas áreas de coleta e a consequente conservação dos castanhais nativos e da floresta”, diz Nunes.
Cleide Arruda, gestora da ONF Brasil, filial brasileira de um dos mais importantes gestores de florestas públicas do mundo, diz que a atividade de coleta de castanha é fundamental para a geração de renda e manutenção das florestas em pé. “Com o passar dos anos essa atividade tem conquistado um papel importante na economia local e é vista por muitos como uma solução para conter o desmatamento”, diz Arruda. A ONF é gestora da São Nicolau, uma fazenda de 10 mil hectares utilizada para reflorestamento, sequestro de carbono e pesquisa científica. A fazenda todos os anos abre as portas para coletores de castanha do PA Juruena através do programa de interação local.
A expectativa dos coletores é encontrar novos compradores para o Produto. A dificuldade é que a maioria das associações do Noroeste só vende o produto in natura, ou seja, sem descascar e secar as castanhas, o que dificulta bastante a negociação com compradores maiores. “Nossa preocupação é que caso a gente não consiga vender essa safra, a qualquer momento os atravessadores possam voltar a atuar na região, oferecendo preços inferiores aos que são praticados no mercado hoje”, preocupa-se Veridiana.
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