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Mais de cinco mil pessoas foram vítimas do trabalho escravo em MT em 10 anos

Rural | 23 de Março de 2015 as 09h 32min
Fonte: Da Redação

Mais de cinco mil pessoas foram retiradas do trabalho escravo em Mato Grosso nos últimos 10 anos. O levantamento é da Comissão Estadual de Combate ao Trabalho Escravo (Coetrae-MT), que retomou as atividades nesta semana.

Um dos casos registrados foi o da fazenda de um irmão da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu (PMDB-TO), no Norte de Mato Grosso. Em outubro de 2013, cinco pessoas foram encontradas em condições degradantes e submetidas a jornadas exaustivas, segundo a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A ação foi realizada entre 19 e 30 de agosto.

Conforme relato dos fiscais, todos os dias, os trabalhadores iniciavam a jornada em torno de 3 horas da manhã, horário em que, antes do alvorecer, preparavam o café e depois, perto das 5h, saíam do alojamento em direção aos pastos onde faziam o roçado. Após caminhar cerca de hora ou hora e meia, por trajetos de até quatro quilômetros de distância, os trabalhadores começavam as atividades.

Por volta das 11h, paravam por 30 minutos para almoço. A comida, preparada ainda no alojamento, traziam em marmitas. Seguiam a trabalhar na sequência, durante o sol do meio dia, até chegar ao fim da tarde; nesse período, as temperaturas na região podem ultrapassar 30º C. A remuneração era por produção e, por isso, mesmo com o calor, as pausas eram poucas, conforme relato dos trabalhadores à fiscalização. O pagamento era de R$ 400 por alqueire roçado para cada empregado, e, segundo os depoimentos, por vezes atrasava.

Em dezembro do ano passado, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região deu provimento ao recurso e recebeu denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra dono de duas fazendas localizadas no Município de Nova Canaã, também no Norte de Mato Grosso. Na referida peça, o MPF relata que oito trabalhadores foram encontrados sob tratamento análogo ao de escravos, estando sujeitos a condições degradantes de trabalho.

Fiscais encontraram os trabalhadores rurais dormindo em barracos de pau-a-pique com lonas plásticas dentro da mata, sem dependências destinadas à higiene pessoal ou à satisfação das necessidades fisiológicas, que eram feitas na mata. Os banhos e a limpeza dos utensílios e roupas eram feitos em córregos próximos aos alojamentos.

As refeições eram preparadas em fogões rústicos de barro e consumidas em bancos improvisados. A carne era armazenada dentro de baldes, imbuída em gordura para conservação, ficando exposta a animais domésticos e silvestres, além de insetos vetores de enfermidades. Observou-se também que os trabalhadores não utilizavam calçados, roupas, luvas, óculos, ou outros equipamentos de proteção próprios para o trabalho que estavam executando. 

O presidente da Coetrae, Valdiney de Arruda, que é secretário de Estado de Trabalho e Assistência Social, afirma que houve uma diminuição considerável de casos, porém não diminuiu o número de empregadores na prática do trabalho escravo. “Infelizmente ainda não conseguimos provocar uma efetiva modificação na cultura dos empregadores na lista suja e por isso temos muito trabalho pela frente”.

Segundo ele a prática será coibida em Mato Grosso com prevenção e repressão.
No Brasil, 47 mil trabalhadores foram resgatados de 1995 até hoje, conforme o representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Brasília-DF. A previsão, segundo ele, é de que ainda existem pelo menos 22 milhões de pessoas nessas condições no mundo inteiro.