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Pesquisa

Modelo produtivo da Embrapa Sinop gera lucro de 3 vezes sobre o valor investido

Técnica de integração com lavoura, pecuária e floresta testada há 5 anos gerou resultados positivos

Rural | 22 de Fevereiro de 2018 as 09h 59min
Fonte: Redação com Assessoria

A avaliação feita em 5 Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em Mato Grosso evidenciou a importância do bom planejamento para o melhor retorno financeiro para o produtor. Embora os dados confirmem a viabilidade econômica da ILPF em todas elas, a correta definição da configuração do sistema e o estudo prévio de mercado são determinantes para garantir a competitividade.

Questões como a escolha da espécie usada na rotação das culturas em um sistema ILP ou da espécie florestal em uma integração com árvores são alguns dos principais erros cometidos e que impactam no resultado final. O analista do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) Miqueias Michetti explica que isso ocorre por falta de planejamento prévio, no qual se verifica a existência de mercado consumidor para o produto, a viabilidade logística e a previsão de preço para comercialização.

Além disso, a definição do espaçamento entre árvores e entre as linhas também interfere diretamente na produção florestal e na pecuária ou lavoura cultivadas entre os renques.

 

Escolha da espécie deve considerar o mercado

“A configuração de plantio tem que estar bem definida. A escolha da espécie tem que ser feita de acordo com o mercado. Você vai ter para quem vender? E isso não vale só para árvores. Estou falando de tudo. Não é em qualquer lugar que você pode plantar soja, por exemplo. Tem que ter logística, armazenamento, comercialização”, explica Miqueias.

Outro ponto importante evidenciado pelos resultados da avaliação econômica e que precisa ser levado em consideração é a disponibilidade de mão-de-obra, uma vez que será necessário fazer o manejo correto do sistema. A consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi destaca o quanto é importante conduzir bem o sistema.

“Se você gastar mais no começo, a garantia de ter um bom resultado final é muito maior. Deixar de gastar com certos manejos no processo faz com que seu produto valha muito menos no final”, afirma.

O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis destaca ainda dois pontos também determinantes para a competividade de um sistema ILPF. “Primeiro é o perfil do produtor. A integração não é um sistema para qualquer produtor, pensando na organização das atividades. Na hora em que ele precisar fazer várias coisas ao mesmo tempo, terá de ser organizado. O segundo é a relação de preço dos produtos, pois os resultados são muito influenciados pela conjuntura”, afirma.

 

Avaliação econômica das URTEs

Estas conclusões são resultado da primeira fase de um projeto iniciado em 2013 por meio de uma parceria entre a Embrapa, o Imea e a Rede ILPF. O trabalho começou com a definição de uma metodologia de avaliação econômica que melhor se adequasse à complexidade dos sistemas integrados de produção.

A partir da opção pela organização dos custos baseada no sistema ABC (do inglês, Custo Baseado em Atividades), os responsáveis iniciaram uma ampla coleta de dados em URTEs instaladas em fazendas parcerias. Essas URTEs são áreas em que o produtor implanta e conduz, em caráter experimental, diferentes configurações de ILPF de acordo com orientação feita pela equipe técnica da Embrapa.

As informações econômicas coletadas nessas propriedades serviram para validar a forma de avaliação, formar um banco de informações inicial e para gerar os dados referentes àquelas áreas.

 

Lucro de até R$ 3,70 para cada real investido

Finalizada esta primeira etapa, os dados finais da avaliação econômica de cinco URTEs comprovaram que a ILPF é viável economicamente. Trazendo todos os dados para valores correspondentes ao ano de 2017, a comparação mostrou lucratividade variando de R$ 0,20 a R$ 3,70 para cada R$ 1 investido na produção. O Valor Presente Líquido Anual (VPLA), que é a receita por hectare a cada ano, variou de R$ 152,40 a R$ 2.175.

Grande parte das variações entre os valores são explicados por questões climáticas, localização da fazenda, oscilações de câmbio, mercado e custos de produção. Entretanto, a configuração do sistema escolhida e o produto usado também fizeram diferença.

 

Estudo de mercado é importante

O melhor resultado, por exemplo, foi obtido pela fazenda Bacaeri, com um sistema silvipastoril com teca. O bom preço da teca e a existência de um mercado garantido para a produção puxaram a lucratividade e a renda do produtor. Já na Fazenda Brasil, mesmo com a rentabilidade da soja no início do sistema e da pecuária na sequência, a falta de mercado para o eucalipto de ciclo curto derrubou o índice de lucratividade.

“Não houve um estudo de mercado. Ele vai vender onde a madeira? Mesmo o eucalipto que, teoricamente, seria uma madeira fácil de comercializar... Com a quantidade de madeira produzida, ele não teria nem onde usar na propriedade. Faltou um pouco de estudo de mercado, que é uma coisa que a fazenda Bacaeri tem muito consolidado”, compara a consultora Mariana Takahashi.

Na comparação de dois sistemas com teca, nas fazendas Bacaeri e Gamada, também há uma diferença considerável nos resultados econômicos. Nesse caso, a configuração escolhida exerceu grande influência.

 

Espaçamento pequeno prejudicou pastagem

“Na fazenda Gamada houve lavoura, depois entrou pecuária e virou um silvipastoril com teca. Teoricamente a teca deveria levar os valores lá para cima, mas vimos na análise que vários fatores técnicos levaram os números para baixo. Um deles foi a pecuária, resultado do espaçamento pequeno entre os renques de árvores que prejudicou a pastagem. Além do fato de ser linhas triplas de teca, enquanto na fazenda Bacaeri são linhas simples”, explica Mariana Takahashi.

A importância do mercado, da infraestrutura e da logística ficou evidenciada também na comparação de fazendas sem componente florestal, com a integração lavoura-pecuária. Embora o período de avaliação das fazendas Certeza (Querência-MT) e Dona Isabina (Santa Carmem-MT) tenham sido os mesmos e a rotação de culturas tenha sido semelhante, o resultado da Dona Isabina foi superior.

“A diferença era o lugar onde elas estavam. Uma estava em um local onde a agricultura já estava consolidada e outra onde a agricultura ainda estava começando”, explica Miqueias se referindo à Santa Carmem, localizada no médio Norte do estado e a Querência, até então uma nova fronteira agrícola no Vale do Xingu.

 

Próximos passos

Como as URTEs são áreas de experimentação, algumas das configurações adotadas não se mostraram viáveis tecnicamente, dispensando a necessidade de uma avaliação econômica. Para driblar o aspecto experimental, a equipe do projeto está investindo agora na coleta de dados de fazendas comerciais que adotam alguma configuração de ILPF.

Cinco propriedades serão analisadas ao longo de 2018. Além de gerar informações sobre essas fazendas, o trabalho será mais uma forma de validar a metodologia de avaliação econômica de ILPF. Adicionalmente, alimentará um banco de dados que dá suporte a uma planilha que permite, de maneira simplificada, fazer a avaliação de qualquer fazenda com sistema de integração.

De acordo com o pesquisador da Embrapa responsável pelo projeto, Júlio César dos Reis, todo o trabalho feito até agora tem servido de base para a disponibilização de uma ferramenta de avaliação econômica dos sistemas ILPF. Ele explica que o protótipo dessa planilha, com as informações e cálculos estruturais já está pronto, porém ainda faltam aspectos de programação que irão tornar sua alimentação mais simples, podendo ser usada facilmente por consultores e produtores. A previsão é de ser lançada até o fim do ano.

O pesquisador da Embrapa explica que, além de ajudar o produtor, essa ferramenta de avaliação econômica de sistemas de integração permitirá o trabalho com simulação de cenários.

“Como o sistema ILPF é dinâmico, tem muitas culturas, o ideal é que consigamos mexer nas configurações para poder verificar os resultados que podemos chegar”, explica.

Diferentemente do uso na pesquisa, em que é exigida uma riqueza maior de informações para melhor estudo, essa ferramenta de avaliação econômica não será baseada na metodologia ABC e sim no custeio por absorção. A coleta de informações nessa segunda abordagem é mais simples e se aproxima mais das formas de controle já usadas pelos produtores. O resultado contábil final é o mesmo.