Produção
Pecuária de MT mira precocidade das novilhas para lucrar e produzir mais
Rural | 08 de Junho de 2016 as 09h 06min
Fonte: Leandro J. Nascimento
A concorrência no mercado global da proteína animal impôs à pecuária brasileira uma corrida contra o relógio. Ao mesmo tempo, expôs um gargalo: a eficiência na produção de carnes é baixa e não acompanha a velocidade com que cresce a demanda pelo produto.
Noutras palavras, o Brasil abate seus animais muito tarde (a partir de 4 anos aqui contra 2 anos nos EUA); a produtividade é baixa (1,2 animal por hectare); a carcaça bovina pesa menos (239,5 kgs ante 360,35 kgs nos EUA), o bezerro é mais leve (média de 190 kg contra 300 kgs nos EUA). Os dados constam em relatório divulgado pelo banco holandês Rabobank.
"Somos todos os dias colocados em meio à concorrência. Seja ela pela produção de outras carnes até mesmo na hora da dona de casa ir ao supermercado escolher o que vai comprar. Precisamos ser mais competitivos", afirma Arnaldo Eijsink, CEO do Grupo JD no Brasil, do qual fazem parte as Fazendas São Marcelo, localizadas em Mato Grosso.
A São Marcelo integra um grupo de 47 fazendas localizadas em 13 estados brasileiros, além de 03 países da América do Sul, especializadas na pecuária de seleção e melhoramento genético para bovinos de corte.
"Por meio do melhoramento você faz a seleção e consegue restringir à atividade ou à função reprodutiva somente os animais que têm potencial genético para melhorar os níveis de produção", explica Marcelo Almeida Oliveira, médico veterinário e mestre em reprodução animal.
O desafio da pecuária, segundo o especialista, é produzir rebanhos comerciais destinados ao abate cada vez mais pesados, além de fêmeas que iniciem a fase reprodutiva antes do 27º mês de vida (média brasileira, segundo o Cepea/Esalq).
Propriedades que miraram na precocidade sexual das novilhas estão alcançando tais índices e elevando a produção de carne. Em Mato Grosso, um dos exemplos vem de Juruena, no Noroeste do estado.
O programa de seleção adotado há mais de dez anos na Fazenda São Marcelo permitiu que todas as fêmeas emprenhem até o 18º mês de vida. Algumas, as chamadas superprecoces, começam já aos 14 meses.
"Não temos mais novilha de 24 meses na fazenda. Os animais emprenham até os 18 meses. As fêmeas que não conseguem, pois sempre há algumas, vão para o frigorífico. Nesta idade elas já têm condições, devido à precocidade da família, de ter peso suficiente para o abate", diz o CEO do Grupo JD no Brasil, Arnaldo Eijsink.
Graças ao aperfeiçoamento genético dos animais, a fazenda elevou, em cinco anos, de 6,6% para 67,6% a taxa de prenhez das novilhas com até 14 meses.
Eijsink faz as contas e mostra porque os resultados já estão distantes da pecuária tradicional e sem uso da tecnologia. Uma novilha que emprenha aos 14 meses terá, ao longo de 35 meses, duas crias. Aquelas que começam aos 18 meses, um bezerro.
"Em quatro anos o animal criou dois bezerros desmamados. Isso para quem emprenhou com 14 meses. Desta forma, já vendi o bezerro duas vezes. Da outra [de 18 meses], eu vendi só um bezerro, mas ela já está pronta para parir de novo com 46 meses", pontua o executivo.
Na prática, são 3 bezerros nascidos até o 35º mês, enquanto, na média brasileira, este número chega a apenas 1 (considerando o início da prenhez aos 27 meses). No acumulado de 46 meses, simulando-se a venda de 100 por cento dos bezerros, seria possível lucrar duas vezes frente às fazendas convencionais.
"Com um animal precoce se consegue adiantar em até um ano a entrada deste em vida reprodutiva. Considerando-se que a vida média de uma vaca gira em torno de 6 a 7 anos, é possível aumentar de 20% a 30% a produção ao longo da vida do animal. Isso graças ao fator da precocidade sexual", diz Leone Furlanetto, gerente técnico da Fazenda São Marcelo.
Apenas entre 2014 e 2015, a produção de quilos de bezerro desmamado na fazenda cresceu 20%. "Aumentou na mesma área, com a mesma equipe, explorando e intensificando a produção", acrescenta ainda Furlanetto. A tecnologia da precocidade é colocada no mercado por meio de touros produzidos na Fazenda São Marcelo.
Os animais já ganharam visibilidade e atraíram a atenção de outros pecuaristas. Na última visita que fez à Fazenda São Marcelo, o casal Wilmar e Jussara Fischer comprou seis reprodutores. Eles vão para a fazenda da família no município de Santa Terezinha, onde são usados durante a estação de monta. Os criadores garantem que estes melhoradores – cria das 'supermatrizes' - têm atestado de eficiência comprovado.
"A bezerrada tem nascido com uma média de 30 quilos a mais, na comparação com o uso de outros touros que usávamos. Bezerros que alcançaram 240 quilos com sete meses. Antes, eram de 190 a 200 quilos", compara o pecuarista.
Na fazenda do empresário Valdir Perin Sousa, em Tangará da Serra, a inclusão dos touros também foi sentida. "Estou entregando um animal mais pesado e com acabamento. Com menor idade e peso melhor para os confinadores", diz. O último lote continha animais de 18 meses e pesando 14 arrobas.
Em 2011, todos os dez touros do sítio do criador Giovani de Martini Lima, em Nova Bandeirantes, foram substituídos por reprodutores saídos da Fazenda São Marcelo.
Nas palavras de Eijsink, executivo do Grupo JD, o porquê de a precocidade sexual das novilhas estar na mira dos pecuaristas. "Tempo é dinheiro", enfatiza.
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