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Boa tarde, Segunda Feira 13 de Outubro de 2025

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Artigo

A guerra de titãns

13 de Outubro de 2025 as 07h 52min

A trégua na guerra comercial dos Estados Unidos com a China sofreu outro forte abalo na última sexta feira (10). O presidente americano Donald Trump anunciou que vai voltar a sobretaxar, a partir de 1º. de novembro próximo, os produtos chineses. A China, por meio do Ministério do Comércio Exterior, anunciou no domingo (12) que não quer uma guerra comercial com os Estados Unidos, mas que não hesitará em tomar medidas “fortes e correspondentes” caso os americanos não voltem atrás na decisão de impor tarifas adicionais de 100% sobre os produtos importados do país asiático.

Quando os dois titãs brigam, a terra treme, a economia mundial é prejudicada e todos os países sofrem as consequências em seus mercados domésticos.

Os mercados financeiros já viam com ressalvas a frágil trégua estabelecida entre EUA e China. Em um cenário mundial repleto de incertezas, a retomada do conflito aumenta as incertezas econômicas mundiais

A guerra comercial restabelecida após uma breve trégua de cinco meses, arduamente negociada, abala seriamente a ordem do comércio internacional e prejudica as cadeias mundiais de suprimentos.        

O estopim do novo abalo geopolítico foram as restrições comerciais impostas pela China às exportações das chamadas “terras raras”, minerais estratégicos para as indústrias bélica e tecnológica americanas. São essenciais para a fabricação de diversos componentes que vão desde microprocessadores (chips), baterias para carros elétricos até foguetes espaciais e armamentos ultramodernos como os misseis balísticos intercontinentais.

Como os chineses possuem 48% de todas as reservas mundiais desses minerais e dominam a cadeia de refino, industrialização e comercialização, a forte dependência americana se tornou altamente perigosa e uma ameaça à segurança nacional. A nova elevação de tarifas alfandegárias é uma tentativa de forçar negociação mais favorável à indústria americana.

A medida terá impactos na economia brasileira. No campo diplomático, o Brasil fica em posição bastante delicada, não podendo escolher um lado nessa guerra fratricida. Estados Unidos e China são os principais parceiros comerciais e o país depende extraordinariamente das compras de ambos.

Para o Brasil, que sofre com uma crise fiscal incubada, inflação persistente e sufocantes juros altos, os efeitos podem gerar mais instabilidade cambial, e no mercado de capitais, com reflexos na atividade econômica.

Na semana passada a revista britânica de negócios The Economist, uma das mais influentes do mundo, publicou reportagem mostrando que na guerra tarifária iniciada por Trump em abril, “o grande vencedor” são os produtores de soja do Brasil. O conflito entre americanos e seus clientes chineses permitiu que o Brasil se consolidasse como superpotência na produção e exportação de soja, milho e carnes. A China interrompeu todas as compras de soja americana e aumentou as importações de soja brasileira. Enquanto isso, o Brasil bate recorde de exportação de soja. Em 2025 as exportações devem chegar a 110 milhões de toneladas, a maior parte para o mercado chinês.

O estrago para os agricultores americanos foi tamanho que o governo anunciou ajuda de US$ 10 bilhões para compensar as perdas dos fazendeiros do estado de Illinois.

Líderes políticos e empresariais do mundo inteiro torcem para que as negociações entre os dois gigantes levem a um recuo dessa insana guerra comercial e promovam um acordo comercial, mitigando os efeitos do indesejado choque geoeconômico.

Os mercados financeiros já viam com ressalvas a frágil trégua estabelecida entre EUA e China. Em um cenário mundial repleto de incertezas, a retomada do conflito aumenta as incertezas econômicas mundiais diante da possibilidade de alterações das regras do jogo econômico, do comércio internacional, da cadeia de suprimentos de insumos industriais importantes e viabilidade de investimentos de médio e longo prazos. Reduz, por consequência, as expectativas de crescimento da atividade econômica que já eram tímidas.

Para o Brasil, que sofre com uma crise fiscal incubada, inflação persistente e sufocantes juros altos, uma nova crise comercial pode gerar mais instabilidade cambial, com seus conhecidos reflexos de retração da atividade econômica.

Os líderes da China e Estados Unidos, Donald Trump e Xi Jinping, têm encontro marcado para o final de outubro, na Coreia do Sul. Caso o encontro seja mantido, restará ao mundo torcer para que ambos reconheçam que a sensatez é o melhor caminho para solucionar uma crise criada pelo governo americano, pois o conflito causa graves danos nas duas economias. Caso não construam um acordo ou a reunião seja adiada ou cancelada, o choque dos titãs certamente vai abalar as economias de países do mundo inteiro.

Vivaldo Lopes

Artigo

*Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP . E-mail: vivaldo@uol.com