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Barreira comercial

Indústria do café entra em alerta após tarifas de Trump; preço e produção podem ser impactados

Os Estados Unidos são o principal comprador do café produzido no Brasil; somente em 2024, o país importou 8,131 milhões de sacas

Economia | 09 de Abril de 2025 as 09h 26min
Fonte: O tempo

Foto: Divulgação

A cafeicultura brasileira está em alerta com o tarifaço de Donald Trump, anunciado na semana passada, para dificultar a entrada de produtos importados no país e fomentar a indústria norte-americana. Os Estados Unidos são o principal comprador do café produzido no Brasil. Somente em 2024, o país importou 8,131 milhões de sacas, o equivalente a 16,1% de todas as exportações brasileiras da bebida e representou um crescimento de 34% na comparação com 2023.

No entanto, o café brasileiro está sendo taxado em 10% - alíquota definida por Trump para produtos brasileiros -, desde o dia 5 de abril para entrar nos Estados Unidos. O percentual é mais baixo do que o aplicado, por exemplo, a outros países com grande produção, como a Indonésia, que terá uma barreira comercial de 32%, e o Vietnã, com 36%. A Colômbia, outro player importante no mercado, também terá uma taxa de 10%, como o Brasil. 

Os quatro países são os maiores produtores de café do mundo, em uma lista que tem o Brasil na liderança, seguido por Vietnã, Colômbia e Indonésia. O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Celírio Inácio, afirmou que o cenário demanda cautela e melhor entendimento sobre o tarifaço de Trump. Para ele, o fato de o Brasil ter uma alíquota menor que a de outros países que também exportam a bebida aos Estados Unidos não significa, necessariamente, uma vantagem. 

“Na prática, pode não ser bem assim se tivermos um olhar macro. Diante de uma decisão tão generalizada, onde, aparentemente, o Brasil foi beneficiado, é necessário refletirmos com calma sobre produção, consumo e mercado global. Sabemos dos desafios que o setor cafeeiro passou e, ainda, enfrenta no mundo”, destacou Inácio. Um cenário desenhado por ele é o possível freio à produção de café mundialmente. 

“A equação entre demanda e produção de café não é simples e depende de diversos atores. Se não houver, por exemplo, motivação por parte da Indonésia e do Vietnã para seguir produzindo café devido à taxação, como fica o abastecimento mundial? Isso sem falar ainda na importância da economia do café para esses países”, ponderou Inácio. 

Conforme o representante da Abic, o tarifaço de Trump não surtirá o efeito desejado por Trump, de incentivar a produção nacional, no caso do café. “Os EUA sempre dependerão dos países produtores de café para abastecer seu mercado interno. Portanto, é crucial considerar as implicações de qualquer mudança no consumo de café nos EUA, e como isso pode afetar as suas indústrias como um todo”, acrescentou. 

O tarifaço, na avaliação de Celírio Inácio, vai gerar consequências a produtores, comerciantes e consumidores de café. Segundo ele, os aumentos sobre o preço do café nos últimos 12 meses ainda não foram repassados às gôndolas dos supermercados, sendo acomodados em hedges - uma cobertura para proteger para operações financeiras. No entanto, neste momento há uma grande procura dos norte-americanos por café, para suprir uma demanda imediata. 

“É momento de entendermos como que essa ordem vai ser formalizada e como vai acontecer. Também é necessário observar o redesenho das relações. Apostamos
muito na diplomacia do nosso país, e torcemos para que as dos outros países afetados também sejam responsáveis. Temos que aguardar. Nossa preocupação não é só com o Brasil, mas com todo ecossistema cafeeiro”, finalizou Inácio. 

Oportunidades 

Mais otimista, a analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar) Ana Carolina Gomes crê em mais competitividade do café mineiro e brasileiro, após o tarifaço de Trump. Os Estados Unidos são o principal comprador de café mineiro, adquirindo 19% do total exportado. São cerca de 5,9 milhões de sacas que deixam o território mineiro rumo aos EUA, em uma negociação que gira em torno de US$ 500 milhões.

“O café mineiro e brasileiro também terão mais competitividade frente a outras origens produtoras que foram mais taxadas, que é o caso do Vietnã, que teve uma taxa de 46% e a Indonésia com 32%. Ainda não é possível medir o real impacto dessa medida, visto que no curto prazo ela tende a inflacionar o preço de café consumido nos Estados Unidos, podendo deixar o café mais caro nas cafeterias, no varejo, para o consumidor americano. E isso pode ter uma queda no consumo”, frisou Ana Carolina. 

Ela projetou um custo maior ao produtor, sobretudo os exportadores, caso haja uma queda na venda. “É uma faca de dois gumes, visto que essa medida também pode ser vista pelo lado positivo, no sentido de abertura ou fortalecimento de novos mercados consumidores, que é o caso da Ásia. A China hoje já é o sexto maior comprador do café de Minas Gerais, então a gente pode ter oportunidades com outros mercados também”, completou Gomes.