Recém-nascidos recebem antídoto para veneno de jararaca em vez de vacina em Santa Catarina

Crianças deveriam ter sido imunizadas contra hepatite B em Santa Catarina e caso será investigado

Onze recém-nascidos receberam, por engano, antídoto para picada de cobra em vez da vacina contra hepatite B em Canoinhas, no norte de Santa Catarina. Os casos foram confirmados nesta terça-feira (15/7) e teriam ocorrido na última semana, entre quarta (9) e sexta (11), no hospital filantrópico Santa Cruz.

Os bebês, que passam bem, receberam doses de soro antibotrópico enquanto estavam na maternidade do hospital. O caso é tratado como erro interno, e a principal suspeita é que a semelhança entre os frascos da vacina e os do soro podem ter causado a confusão na administração. Ambos os produtos são fabricados pelo Instituto Butantan.

O soro antibotrópico é especificamente indicado para vítimas de picadas de serpentes do gênero Bothrops, que incluem espécies conhecidas como jararacas, jararacuçus, urutus, jararacas pintadas e caiçacas.

A vacinação contra a hepatite B, conforme recomendação do Ministério da Saúde, deve ser administrada em quatro doses: a primeira logo após o nascimento, e as demais aos dois, quatro e seis meses de idade.

Secretaria de Saúde se manifestou

Em nota oficial, a Secretaria de Saúde de Canoinhas informou ter sido comunicada na segunda-feira (14) sobre o incidente pela Gerência Regional de Saúde de Mafra.

Todas as famílias já foram avisadas do incidente, e os bebês estão em acompanhamento pela equipe da Vigilância Epidemiológica de Canoinhas.

De acordo com a pasta, a administração da vacina não é responsabilidade direta do Município, mas sim da equipe do Hospital Santa Cruz de Canoinhas.

Nesta terça-feira, a prefeita de Canoinhas, Juliana Maciel (PL), determinou a contratação de uma auditoria externa para apurar os serviços prestados pelo hospital Santa Cruz.

"Nós precisamos entender com clareza e responsabilidade o que está acontecendo lá dentro", afirmou a prefeita. "Mesmo o Hospital Santa Cruz não sendo da prefeitura de Canoinhas, a maioria dos atendimentos realizados lá são atendimentos pelo SUS, e o município de Canoinhas encaminha ao hospital, mensalmente, mais de R$ 1 milhão para custeio desses serviços à população."

Sindicância foi aberta

Os bebês receberam uma dose de apenas 0,5 ml por via intramuscular, uma quantidade significativamente inferior à utilizada em casos de picada de cobra. Para estes, a dose pode variar de 20 ml a 40 ml em incidentes leves, chegando a até 120 ml nos casos mais graves. Cada ampola do soro contém 10 ml.

De acordo com Karin Adur, administradora do hospital, uma sindicância foi aberta no dia 13 para identificar a causa do erro. "Estamos implementando mudanças nos processos para garantir cada vez mais a segurança dos nossos pacientes", afirmou.

A diretora disse que o hospital notificou os órgãos competentes, como a regional de saúde, Coordenação Estadual de Segurança do Paciente, Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina), o VigiMed (sistema da Anvisa para monitorar adversidades ligadas à aplicação de vacinas e medicamentos) e o próprio Instituto Butantan para que as medidas adequadas sejam tomadas.

Há riscos para os bebês?

Após a identificação do erro, todos os bebês foram avaliados no hospital pela enfermeira obstetra e por um pediatra.

Karin Adur afirmou que o hospital está à disposição dos pais para dar continuidade à avaliação médica dos bebês, e que também presta apoio psicológico aos profissionais de saúde da instituição, devido ao abalo emocional causado pelo incidente.

Ela também ressaltou que, segundo informações do Instituto Butantan, a possibilidade de uma reação tardia à dose é muito pequena e, caso ocorra, tende a ser leve, manifestando-se por sintomas como febre, dor local e vermelhidão.

"Nossa prioridade é cuidar desses recém-nascidos e garantir que tudo fique bem com os bebês, com os pais e também com os profissionais envolvidos nessa situação", concluiu Karin.